quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

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«A vida é o que acontece enquanto você está ocupado com outros projectos.»
John Lennon
Bárbara de Sotto e Freire

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A tua ausência

Este natal vai ser mais triste. Vai ser sem ti. Não mais vou ouvir a tua voz, não mais vou ouvir que conseguis-te ultrapassar esta ou aquela batalha. Sempre foste lutador, desde que me conheço. Lembro-me de ires lá para casa, e estarmos todos juntos, eu, tu, o meu irmão e a tua irmã. Grande tarde, essa que recordo hoje com saudade.
Não sei se sou demasiado simplista, mas acho que a nossa existência se resume a duas questões: o que fizemos durante a vida, e como se recordarão as pessoas de nós após a nossa morte.
Tu bem sabes que conquistas-te as pessoas. Bem sabes que as tuas limitações fisicas te elevaram a um patamar bem mais alto que nós, na nossa limitada e mesquinha perfeição, nos permitem fazer. Lamento e choro a tua ausência. Hoje, este natal. Sempre. Como se a tua ausência tivesse tocado num ponto muito sensível de mim, e me tivesse feito pensar que afinal não tenho dado o meu melhor, não tenho amado no meu todo.
Este natal vai ser mais triste também por ti. Porque tiveste um acidente, e estás deprimido, numa cadeira de rodas, e eu não sei que te dizer. Chego à tua beira, mas não junto de ti. Queria abraçar-te e dizer que te adoro e que és uma pessoa espectular e que sem ti eu não sou, mas não consigo. Estás rezingão, e eu rezingona, perdida num mutismo que é meu, e que só eu conheço, numa zanga que é só minha, numa luta que travo com Deus, a perguntar-lhe porque é que não sou eu que estou no teu lugar. Não é justo.
Este natal vai ser mais triste porque eu te dou um pouco da minha alma, e tu magoas-me a alma inteira. E eu nem assim aprendo. E viras-me as costas, e surges do nada, novamente, pronto para mais uma investida, e eu vou outra vez. Numa amizade em que dar e receber não são os mesmos pratos da balança.
Este natal vai ser mais triste porque tu estás esquecido, e quase não me conheces. Tu. Eu que era a menina dos teus olhos. E agora, quase não sabes quem eu sou, ou o que faço.
Este natal vai ser mais triste, porque penso em tudo o que fiz e não o faria hoje. Em todas as escolhas que faria de uma forma diferente, oposta, contrária. Nas pessoas que teria amado mais, nas pessoas que não teria amado. Penso sobretudo nas coisas que não fiz, e no tempo que começa a passar demasiado depressa.
A vida teima em ensinar aquilo que não queremos aprender, daí que tenha a sensação que se repita em ciclos. Hoje choro a tua ausência, as vossas auências, a tua e a tua também.
Este natal vais ser mais triste, porque hoje, esta manhã fria, e por isso real, sinto que não sou quem me sonhei. Sinto que esta não é a vida que risquei para mim. E pergunto-me: o que fiz durante a minha vida?, como se recordarão de mim as pessoas após a minha morte?.
Bárbara de Sotto e Freire