terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sonhar...

«Tous les Rêves sont faits de magie et d'émerveillement.»
La Parade des Rêves Disney
Bárbara de Sotto e Freire

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ao ponto que chegamos!

Para bom entendedor meia palavra basta:
«Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem.»

Jean-Paul Sartre
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 10 de outubro de 2010

Verdade, verdadinha!

«Não fazemos o que queremos e, no entanto, somos responsáveis pelo que somos: eis a verdade.»
Jean-Paul Sartre
Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Regresso às aulas

Estes dias encontrei um "tesouro".
Um "tesouro" que julgava esquecido estava religiosamente guardado no meio de um livro de poesia, que abri ao acaso.
Foi no meu 7º ano de escolaridade, decorria o ano de 1993.
O meu professor de francês, um homem distinto, com uma energia contagiante, entrava na sala e dizia "Bonjour mes enfants", ao que nós respondíamos, em coro uníssono, "Bonjour monsieur".
Assim, começou a primeira aula de francês. Com o professor a entrar e a sair da sala inúmeras vezes até que nós conseguimos dizer de forma perfeita, aquilo que se tornaria a rotina diária.
O professor Coelho de Moura era um típico homem das letras. Com uma cultura vastíssima, e com um poder de dicção inconfundível. Nesse ano, um ano tão doce quanto amargo, o nosso projecto cultural estava relacionado com a vida e obra do rei D. João II.
Foi um dos projectos mais espectaculares em que me envolvi até hoje, tendo em conta que tinha apenas 12 anos!
Uma das iniciativas do projecto foi uma peça de teatro, exibida, entre outros locais na Casa Museu Teixeira Lopes. Eu era a voz off, que começava e encerrava a peça.
Durante anos julguei perdido o texto, escrito pela mão do professor Coelho de Moura, que me catapultou para uma paixão de um mundo outrora desconhecido. Reencontrei-o então no "O meu primeiro livro de poesia" de Sophia de Mello Breyner, a marcar a página onde está o poema "O Mostrengo".
Reza assim:
Sala de exposições tendo nas paredes expressões plásticas, fotográficas, etc., referentes à época (sec. XIV).
No palco os mastros duma nau, um rolo de pergaminho com o mapa de África, Trono à direita.
"Música aquática" de Haendel.
Escuro
Voz Off:
O que hoje somos depende do que outros antes de nós foram. O que eles fizeram, o que pensaram, o que sonharam, as vitórias que conseguiram, os insucessos que ultrapassaram, os obstáculos que venceram, a incompreensão dos seus contemporâneos, o elogio fácil, a censura difícil...
Hoje vamos chamar à nossa presença um dos maiores de nós.
Figura carismática de homem. Garboso em cima do seu corcel, o cabelo longo, ao vento, como se não lhe importassem ademanes de vaidade, os olhos negros, penetrantes, de quem lê os pensamentos dos outros, o rosto anguloso, de quem tem vontade firme, as mãos agarradas às rédeas como quem os passos incertos do animal; quando apeado, conserva as pernas afastadas, naquela posição de pessoa segura dos seus princípios e com vontade de os concretizar.
Batido pelo vento à beira-mar, não vê o nevoeiro, perscruta a terra que está para além do que ninguém vê.
À sombra do calcário trabalhado do Mosteiro da Batalha, fomos incomodá-lo no seu sono secular. Pedimos-lhe para vir contar-nos a sua vida. Perguntou-nos se era preciso voltar a viver. Respondemos-lhe que não. Ele nunca tinha morrido na recordação de Portugal. Então, disse-nos com um sorriso: "Se não morri, vou convosco".
Convosco, D. João II.
1º Quadro: Afonso V e D. João II;
2º Quadro: D. João II e Duque de Bragança;
3º Quadro: Diogo Cão;
4º Quadro: Pero Covilhã e Afonso Paiva;
5º Quadro: 4 astrónomos;
6º Quadro: D. João II e criado;
7º Quadro: Isabel a católica
Voz Off: "O Mostrengo"
O mais peculiar desta descoberta é que quando comecei a ler a voz off, constatei que ainda sabia todo o texto de cor, e deu-me um enorme gozo voltar a recordar todos os momentos e a emoção daquela peça de teatro.
O papel, esse, mais parece um pergaminho, e será guardado num sítio muito especial, porque, "o que hoje somos, depende do que outros antes de nós foram."

Bárbara de Sotto e Freire

Acreditar

«Keep away from those who try to belittle your ambitions. Small people always do that, but the really great make you believe that you too can become great.»
Mark Twain
Bárbara de Sotto e Freire

sábado, 25 de setembro de 2010

Desabafos - Setembro II



«Daqui a alguns anos estará mais arrependido pelas coisas que não fez do que pelas que fez. Solte as amarras! Afaste-se do porto seguro! Agarre o vento em suas velas! Explore! Sonhe! Descubra!»

Mark Twain

Bárbara de Sotto e Freire

Perfeito - Nélida Piñon

«Um luxo de que não prescinde

Primeiro, a liberdade. Depois, guardar segredos, aperfeiçoar a arte do sigilo, que nos protege do mal alheio. Rir discreta, sabendo que o riso sabe mais do que exibe. Porque qualquer confissão corre o risco de representar culpa

Nélida Piñon
Entrevista de Luísa Amaral, in Expresso, Revista Única
21/Agosto/2010
Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Desabafos - Setembro I

Há dias em que gostaria de voltar atrás no tempo.
Hoje gostaria, particularmente, de voltar ao dia 23 de Setembro de 2008.
Tenho dito.
Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Um pouco de céu II

«Só hoje senti
que o rumo a seguir
levava pra longe
senti que este chão
já não tinha espaço
pra tudo o que foge
não sei o motivo pra ir
só sei que não posso ficar
não sei o que vem a seguir
mas quero procurar

e hoje deixei
de tentar erguer
os planos de sempre
aqueles que são
pra outro amanhã
que há-de ser diferente
não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu
é que hoje parece bastar
um pouco de céu
um pouco de céu

só hoje esperei
já sem desespero
que a noite caísse
nenhuma palavra
foi hoje diferente
do que já se disse
e há qualquer coisa a nascer
bem dentro no fundo de mim
e há uma força a vencer
qualquer outro fim

não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu
é que hoje parece bastar
um pouco de céu
um pouco de céu»
Um pouco de Céu
Mafalda Veiga
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 12 de setembro de 2010

«No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos.»
Martin Luther King
Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 30 de julho de 2010

António Feio

«Aproveitem a vida, e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento, agradeçam, e não deixem nada por dizer, nada por fazer.»
António Feio
6/Dezembro/1954-29/Julho/2010
Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Para ti!

Este post é para ti. Sim, para ti. Não hesites quando o leres. Sabes exactamente quem és!
Poderia dizer que ás vezes a saudade me faz "bater mal", e quando falo de vocês me vem uma lagrimazita ao olho. É inevitável.
Sabes que poderia apontar muitos motivos para dizer porque é que aquela casa me marcou tanto.
Poderia dizer que foi pelo facto de ter sido o meu primeiro emprego. Talvez.
Mas diria antes que foi pelas pessoas com quem trabalhei no meu primeiro emprego. Pelas pessoas que me ensinaram a vender, pelas pessoas que me disseram que a produtividade não era eu mas um grupo, uma equipa. Pelas pessoas que poderiam parecer frias quando tinham de dispensar um elemento, mas que vinham cá fora fumar antes e depois de o fazer, para afastar os nervos, a tristeza, o stress, e a posição (ingrata) que eram obrigadas a tomar. Foi pelas pessoas com quem eu trabalhei que eu entrava mais cedo e saía mais tarde, independentemente do cansaço, independentemente do sucesso ou do insucesso daquele dia. Foi pelas pessoas daquela casa, que eu aprendi a dizer "sou campeã", "Oh meu Deus que sois tão bom", ou a adaptar a célebre música das doce.
Mas também foi por mim, por me sentir feliz, acolhida, bem sucedida, que eu fiz tudo. Sei que estou a ser egoísta, mas também foi por mim. Porque enquanto eu estava ali, a falar com clientes, com os meus tecos, a fazer n campanhas, era eu própria, percebes?
Lembras-te dos livros que me emprestavas e que eu lia avidamente? Das nossas conversas sobre Vargas Llosa, sobre Fernando Pessoa, sobre as vinhas do Douro, sobre tudo o que há para falar, para ouvir e escutar? Lembras-te dos nossos cafés, e dos nossos cigarrinhos ao fim da tarde, antes do turno das 18h?
Eu lembro-me de tudo. Tudo ficou impresso na minha alma, de modo que ainda hoje, diariamente eu vos lembro, e quase vos venero. E quando me aparecem aqueles clientes menos simpáticos eu lembro-me de ouvir "atitude gera atitude", e quando tenho trabalho e mais trabalho e mais trabalho lembro-me de ouvir "há tarefas urgentes e importantes", e quando tenho casos bicudos e quero vender, lembro-me do SCRIPT, e do "não pressiones, impressiona", e lembro-me de ti a "calçares os sapatos do cliente", falando de vinhos e de pratos típicos, e de tudo e mais alguma coisa! E quando tudo parecia perdido lá vinha a reza e a reza trazia sapiência. E ao fim do dia perguntavam-me "quantos conseguimos?" e eu era uma princesa feliz.
Tudo me foi generosamente oferecido, e foi preciosamente guardado
Tenho em vocês um tesouro, em ti uma amiga.
E em dias árduos, em que as personalidades chocam, e as rivalidades se cruzam, tenho em vocês a força e a coragem para respirar fundo e lembrar-me do quanto me faria bem uma vodka preta com limão.
Por falar nisso estou a dever-te uma; quando marcamos?
Um abraço em nome da lucidez que me transmitem, e da saudade que me mantém viva, por saber que a vodka está para breve.
Bárbara de Sotto e Freire
P.S.: As citações deste post são todas elas de vendedores de excelência do call center Ferreira Dias. Cabe-me a honra de dizer que trabalhei com todos eles.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Guerreiros da Luz

Isto está deitado ao abandono.

Alegadamente por trabalho, deixei-me ir na onda de me consciencializar que não tinha muito tempo para bloguices e ia adiando para as folgas. Na folga adiava para a próxima folga, até que adiei para as férias. É facto que fui de férias, o portátil foi comigo, até andei pela Net, mas nada de posts. Achei que não era o tempo certo, o momento exacto. "Ah e tal, quando chegar!", pensava eu. Mas quando cheguei, voltei a adiar. Até hoje. Adiei durante alguns meses uma vontade irascível de teclar sem um propósito puramente racional, até que me dei conta que hoje preciso de acertar as contas emocionais comigo mesma.

Por vezes adiamos conversas difíceis. Conversas nas quais deixamos de estar na nossa zona de conforto e nos atravessamos num vazio do qual não sabemos o que esperar. Talvez apenas que vamos crescer mais um bocadinho, mesmo que isso seja doloroso, mesmo que não seja simpático, mesmo que seja estranho e alheio ao que até agora experimentamos.

Infelizmente não tenho um Dr encalhado ao meu nome, que me permitiria virar as costas e dizer basta, nem tenho uma herança de família que permita viver ás custas dos rendimentos. E lamento que nem todos tenham honestidade suficiente para serem felizes apenas por si próprios, sem ferir a susceptibilidade dos outros, nem pisar a liberdade dos que o rodeiam.

Gostaria de ser perfeita e insubstítuivel. Não o sou, nem nunca o serei. Erro, perco-me, e desvio-me do "verdadeiro" caminho daqueles a quem chamo Guerreiros da Luz. Mas tento lutar todos os dias por ser melhor. Melhor pessoa, e melhor profissional. Tento aprender todos os dias. E confesso ficar frustada, zangada, irada, comigo própria, quando cometo os mesmos erros do passado, quando não sou suficientemente perfeita, e quando não atinjo as metas a que me proponho. E fico igualmente zangada, quiça decepcionada, quando vejo que quem está ao meu lado não pára de me aponta defeitos sucessivamente, de um modo ora sorrateiro, ora (a)berrante, fazendo-me entristecer, deixar de sonhar, e pensar em desistir.

E hoje, pela primeira vez, eu disse-te. Disse-te frontalmente, com um tom de voz que nunca esperei manter, suave e seguro, que não permitia que o fizesses.

Disse-te hoje, pela primeira vez, como o deveria ter dito há muitos anos a algumas das personagens com que me confrontei ao longo da vida. Fi-lo hoje pela primeira vez. Sem ódio, nem raiva. Apenas com a sensação de que comecei a crescer tarde. Apenas com um turpor na alma que me deixa infeliz. Fi-lo e embora não saiba se tenho coragem para o repetir, prometo incessantemente a mim mesma que o voltarei a fazer se for necessário. Agora de um modo mais sábio, mais subtil, mais adulto, mais consciente, e sem medo.

Neste momento tenho a sensação de estar atafegada, apesar de não querer ninguém ao meu lado. Tudo esmorece, tudo é desilusão.

A partir de hoje deixarás de me ter ao teu lado para te proteger nas tuas lamúrias, e nos teus filmes inventados, que eu ouvia e dos quais ficava desgastada. Chega, basta.

Uma parte de mim ficou para trás. Ou não.

Mas acredita, que me ensinaste muita coisa.

Não sei até quando podemos adiar a nossa felicidade. Mas espero, que a partir de hoje, esse tempo se esbata.

Eternamente.
E assim começa o acabar do abandono do blog.
Bárbara de Sotto e Freire

segunda-feira, 17 de maio de 2010

...

«Destruímos sempre aquilo que mais amamos
em campo aberto, ou numa emboscada;
uns com a leveza do carinho
outros com a dureza da palavra;
os cobardes destroem com um beijo,
os valentes, destroem com a espada.»
Oscar Wilde
Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Desabafos - Fevereiro IV

Já só faltam 46 dias.
Ansiedade brutal.
Bárbara de Sotto e Freire

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Desabafos - Fevereiro III

«Não há que ser forte. Há que ser flexível.»
Provérbio Chinês
Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A vida num sonho

Quem me quiser há-de saber as concha
sa cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente -
Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
Rosa Lobato de Faria
[20/Abril/1932 - 2/Fevereiro/2010]
Bárbara de Sotto e Freire

Desabafos - Fevereiro II

Faltam exactamente dois meses e um dia. Ou então... faltam exactamente dois meses.
Tudo depende da perspectiva.
Passou exactamente um ano e quatro meses. Sinto MUITO a vossa falta.
Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Infelizmente é assim, mas não me conformo


Aqui vai.
Talvez sem muitos rodeios, tiro certeiro, dedo na ferida.

Vivo em Argoncilhe não vai há muitos anos. Quatro, mais coisa menos coisa.
Árgoncilhe, ou Vila de Árgoncilhe?! Pois é, fiquei a saber há cerca de quinze dias que existem em Portugal dois locais distintos, nenhum deles Argoncilhe, mas Árgoncilhe, e Vila de Árgoncilhe, nenhum deles uma freguesia a constar no mapa dos senhores (ou do senhor que me atendeu) da Assistência em Viagem.
Adiante. Em Argoncilhe, Santa Maria da Feira, Aveiro. Aí mesmo.
Desde que aqui vivo tenho-me deparado com particularidades no mínimo caricatas, que nos últimos meses, me têm levado a uma certa irritabilidade, vá.
Começo pelos contentores do lixo. Quando para cá vim morar não haviam contentores do lixo na minha rua. Qual o meu espanto, num concelho evoluído, não existirem contentores do lixo. Eu já não digo ecopontos (existe um na rua principal - que é muito extensa). Falo de contentores do lixo! Em 2009, há alguns meses atrás, instalaram na minha rua alguns contentores do lixo. Eh, que felicidade, viva a evolução e a limpeza!
Gostaria ainda de falar de saneamento básico, da rede de esgotos, mas como gostaria que a leitura se tornasse aprazível, não vou deitar a escrita para esse campo.
Ou talvez dos cartazes e da publicidade que na altura das eleições ficam tempos infinitos pendurados na rotunda do Picoto - bem perto de minha casa.
Como estou a falar dessa rotunda, aproveito para falar de estradas. É que essa mesma rotunda anda em obras. Até aí, tudo bem. Mas as obras deixaram a rotunda completamente esburacada durante meses. O meu carro avariou na famosa rotunda. O meu e muitos outros. E só depois de meses de buracos e obras, em que na rotunda se tinha de conduzir em primeira, é que se lembraram de a asfaltar. Vá lá! Mesmo assim aquela sinalização é um espectáculo! Só por quem lá passa!
E quem passa de carro na Rua de S. Domingos - e transversais - passa por trabalhos! São buracos inesperados, remendos mal feitos, estradas provisoriamente cortadas, desvios feitos à pressão!
Ah, e no cruzamento da nacional para essa mesma rua, a de S. Domingos, há uns semáforos, que de quando em vez (frequentemente) avariam. E só voltam a funcionar passado uma semana, ou então... quando há um acidente.
E a última das últimas novidades! Numa das transversais da Rua S.Domingos, que é uma rua sem saída, e onde há um bloco de prédios, o condomínio pintou os lugares de estacionamento. Ideia de aplauso! Qual o meu espanto quando ontem vejo que nessa mesma estrada a Protecção Civil pôs o sinal de estacionamento proibido. É claro que se fosse um condomínio chique, nada disto acontecia. Mas enfim. Chegam aqui, espetam o sinal no meio do jardim e vão-se embora. Não deixam explicação na caixa de correio, nada. Nicles. Até pensam que vou estacionar o meu carro no meu quarto, que por acaso fica no primeiro andar de um bloco de prédios, dessa rua sem saída. Ora bolas! Mas o mais caricato é que nesta rua sem saída estão dois mamarrachos, vulgo carros, a cair de podres, desde que para cá vim morar, isto é, há já uns anitos. Esses mesmos veículos, em visível estado de degradação, ocupam dois lugares de estacionamento (pelos vistos, agora, proibido!), mas de cá ninguém os tira, nem a polícia, nem a protecção civil, nem a junta, nem a câmara, nem o diabo a sete. Ora bolas, bolas!
Estou farta destas políticas sem jeito nenhum, e destas regras que são feitas para serem obrigatoriamente quebradas.
E quando me perguntarem onde vivo, não vou dizer em Argoncilhe. Porque Argoncilhe não consta do mapa. Vivo entre algures e nenhures.
Vou emigrar para Jerusalém.
E talvez, nem aí.
Tenho dito.
Bárbara de Sotto e Freire

Desabafos - Fevereiro I

Estamos em Fevereiro e ainda não me deste a minha prenda de Natal.
Não sei o que pense, mas sei o que sinto.
Em estado de sítio. A precisar de mudar.
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 24 de janeiro de 2010

Os sonhos que deixamos de viver



O meu blog tem sido deitado ao abandono. É verdade que não são raras as vezes que por cá passo para escrever. Mas são raras as vezes a que me disponho a tal.

Falta-me tempo, energia, e sofro de uma certa falta de paz que não mo permite fazer. Escrever sempre foi para mim um processo de construção interior, e de uma certa ordenação mental. É como se conseguisse por tudo no sítio certo, encaixado onde sempre deveria ter estado. E afinal o que me tem faltado não é tempo, é organização. Ás vezes sinto-me tão cansada, mas simultaneamente tão irrequieta que não consigo parar para escrever. Para pensar. Sinto que a vida se esvai. Sinto que tempo, que afinal é apenas o que fazemos dele, passa cada vez mais de uma forma ainda mais rápida, mais louca, quiça alucinante. Sinto que me esqueci de mim mesma no meio do caos.

O ecrã está branco e fico com receio de escolher as palavras erradas.

Sabes que durante o ano de 2009 li mais de vinte livros?! E sabes qual é o meu cantor favorito? Sabes qual é a estação do ano que mais gosto? Reconheces a cor pela qual me perco? Ou então a peça de vestuário pela qual sou capaz de perder a cabeça (ou o dinheiro)? Sabes porque gosto de ti? Sabes o que mais me irrita nas pessoas? O meu maior defeito? A minha maior qualidade?


Talvez.

Ás vezes tenho a certeza que o mundo para mim é um MUNDO todo onde cabe tudo e não cabe nada, onde cabem experiências e afectos, onde cabem amores e desamores, onde as raivas e os ódios se dissolvem, onde o mar e o sol se tocam cada dia, todos os dias.

Primeiro era o verbo e o verbo fez-se carne. Era assim que o professor de MIA (Métodos Instrumentais de Análise) começava as aulas. Todos os dias.


Mas tantas outras vezes acho que vivo num mundinho pequeno, mesquinho, medonho só de pensar que existe. Limitado. Picuinhas. Um mundo limitado ao meu ser, que se colide com ele próprio.

Tenho pensado, e cada vez mais tenho reflectido nisso, que realmente não é esta a vida que escolhi. Não são estes os sonhos que sonhei para mim. Não foram estas as pessoas que eu decidi amar. Amo porque sim. Gosto porque a alternativa era esta ou nenhuma outra.

É difícil de explicar-te assim, por palavras, quando as palavras estão gastas.

Eu quero viver o meu sonho, eu quero voar o meu destino, com as minhas asas, e traçar a minha liberdade.

Eu quero batalhar a minha luta.

E o meu sonho implica esforço, coragem, audácia. Implica que tu estejas ao meu lado. Que não vaciles, e que não me deixes desistir. Implica que saibas quais os livros que li, ou a música que oiço no carro ao berros, ou que adoro carteiras e brincos, que conheças o meu perfume. Implica que haja alguém que acredite em mim.

O meu sonho, também é o teu sonho.

Cada manhã um desafio.

Sabes quando fazemos tudo por alguém e esse tudo não chega? Ou quando se esquecem da nossa existência, e passamos a sentir-mo-nos invisíveis?

É uma sensação horrível. De que não existimos, de que não estamos ali, ou até mesmo de que não somos suficientemente capazes de ser pessoa.


Não sei.

Estou confusa. Ando chateada. Irritável. Irascível.

Se não procurarmos o céu, nunca chegaremos ás estrelas.

Pedro Abrunhosa/ Jorge Palma/ Madredeus/... .Outono.Preto. Calças de ganga. Porque és genuína. Hipocrisia. Teimosia. Ter um pouco de ti.

Bárbara de Sotto e Freire



quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

À Beleza

«Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim.
És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.»
Miguel Torga, in 'Odes'
Bárbara de Sotto e Freire