quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O amor acontece - Afonso

Afonso estava hoje com energias renovadas. Sentia-se bem, diria que quase feliz.
Apenas se questionava sobre os verdadeiros receios de Catarina.
Sabia que até agora não tinha falhado em nada, nas suas promessas, na sua ternura, no seu carinho, ou no seu sentido protetor. Por isso não conseguia entender a cabeça daquela mulher que lhe dava a volta à cabeça.

Perguntava-se o porquê de se ter apaixonado agora. Tão cedo. Mas não encontrava resposta. Perguntava-se acerca do motivo que o levara a apaixonar-se por uma mulher tão inspiradora quanto complexa.
Sabia que o dia de ontem não tinha sido fácil. Sabia que ela tinha notado. Por isso lhe contara a sua história... E sabia que ela ficara preocupada com ele, porque a forma dela o amar era genuína, verdadeira e real. Tão real e sentida como ele nunca tinha sentido.
Mas caramba! Será que já não lhe tinha dado motivos suficientes para ela confiar nele?! Porquê tantas dúvidas? Por vezes ela não parecia deste tempo!

Chateava-se consigo mesmo porque queria estar com ela, abraçá-la, dançar com ela, enfim, queria ser feliz!
Ninguém é infeliz toda uma vida, e logo agora que a encontrara, tinha a certeza de ter nascido para ser feliz!
Chateava-se consigo porque gostava dela, e por vezes ela parecia um gato desconfiado.
Perguntava-se quanto tempo ela precisaria de tempo? Uma semana? Dois meses?
Mulheres!
Seria ele capaz de lhe dar o que ela definia como amor? Seria ele capaz de compreender o seu binómio emocional? E ela? Será que ela o entendia, será que o amava tanto como ele a amava a ela? Será que ela o deixaria ficar quando surgissem dificuldades?
Afonso não deixava de ser perguntar. Mas sabia que a amava e que a respeitava. E para ele a certeza do amor bastava.

Sim, Afonso iria debater-se com todas estas questões durante algum tempo, mas não se iria perder nem fugir de si mesmo. Iria encontrar-se e ao encontrar-se fazer as pazes consigo e com a vida. E aí sim, seriam felizes. Para sempre.

Bárbara de Sotto e Freire

O amor acontece - Catarina

Hoje o seu coração estava apertado, pequeno, amassado por pensamentos e perguntas para os quais ela não encontrava resposta.
Catarina não sabia se alguma vez encontraria resposta para as suas dúvidas e receios; jamais saberia se alguém lhe daria essas respostas. Achava e, no fundo, sabia, que apenas o tempo, a faria perceber o que é o amor.

Catarina queria amá-lo por completo, na íntegra. Queria entregar-lhe o coração, a alma, o corpo. Queria que ele se entregasse a ela. Catarina não o iria amar pela metade. Se amava faria-o por completo, mas tinha pedido a Afonso tempo.
Tempo para se conhecerem, tempo para se respeitarem, tempo para que ela se perdoasse a si mesma. Catarina achava que com o passar dos dias ele ficaria a conhecer o seu verdadeiro eu: um eu que tanto gosta de aventura, como de mergulhar na sua própria solidão; um eu que gosta de música e de silêncio; um eu que gosta de falar, mas que quer momentos em que a partilha do silêncio seja também ela mágica; um eu que é acessível e inacessível; um eu que sorri e que chora; um eu que ainda tem muito que aprender enquanto pessoa, que quer deixar o passado no passado, que quer aprender a gostar de si mesma...
Hoje Catarina perguntava-se se esse tempo lhe seria concedido. Chorava dentro de si mesma, pois ao mesmo tempo que queria estar com Afonso, tinha medo que ele a deixasse. Tinha medo que Afonso procurasse no brilho dos olhos de outra mulher aquilo que ela não lhe podia dar agora, neste momento, já.
Chorava com medo de viver a vida. Tinha medo de ser feliz.
Catarina sempre fora muito ligada à sua familia e queria manter o tempo que tinha para si, o tempo que dedicava à mãe e à sobrinhada, acrescentando tempo ao tempo e vida à vida  com Afonso.

Debatera-se hoje durante todo o dia com isto. E não encontrara resposta.
Perguntava-se o que via ele nela.
Ela via nele aquilo que sempre desejara. A sua lista de "requisitos do Homem ideal" estava preenchida, o seu coração estava quente, e batia forte quando pensava nele. Eram estes os ingredientes do amor.
Contudo, fazer esta receita era muito mais complicado do que sempre imaginara.
Sabia que os pratos da avó eram fortes, os da mãe eram mais suaves. Preferia o assado da avó, a canja da mãe, e os molhos preparados pelo irmão. Cada um tem uma forma secreta e misteriosa de fazer uma receita universal. Para ela esta receita não era só nova, como exigente.
Mas ela também gostava de desafios...

Hoje, Catarina precisava dele. Sabia que o amor era imprevisivel, que havia dias bons, e dias como os de hoje, em que todo o tempo não chegava para ter tempo.
Precisaria durante muito tempo da paciência de Afonso. Da forma carionhosa com que ele diria "amo-te", "quero-te". "Tu é única, és a minha princesa". "Para sempre".

E assim Catarina adormeceu no meio das suas lágrimas de incerteza, certa de que o Universo lhe estava a dizer "sê feliz".

Bárbara de Sotto e Freire

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Para ti

Ela deixara o amor lá atrás na sua vida. Não era coisa em que pensasse, embora por vezes se sentisse terrivelmente só. Contudo acomodara-se à sua solidão e gostava muito de ter o seu espaço. Apreciava o seu egoísmo, gozava do seu tempo, vivia quase exclusivamente para si.
De facto não sabia muito bem se alguma vez teria amado... questionava-se algumas vezes sobre o assunto... por vezes achava que sim, mas muito mais vezes sentia que não. Não. Nunca tinha tido alguém que fizesse tudo por ela, e ela admitia que nunca tinha chegado ao ponto de fazer tudo por alguém. Isso queria dizer que nunca amara. Para ela amar era isto: era ultrapassar tudo, correr atrás de, fazer o humanamente impossível por aquele alguém que a complementaria... E claro, nunca tinha encontrado alguém que a tivesse complementado. Tinha encontrado homens que traziam mais problemas à sua vida, que paz. Ela também não queria alguém que lhe desse soluções! Apenas estabilidade e equilíbrio.

Tinham-se conhecido nos primeiros dias do frio mês de Novembro.
Tinham-lhe falado dele, mas ela não pensara em nada, nem sequer pensara no assunto! Para ela falar de amor, era algo que estava enterrado, era um conceito que pertencia aos outros, e não a ela.
Acabara por falar com ele, só porque sim, e foi então que se deu conta que afinal o amor não era uma teoria matemática linear para a qual ela conseguisse uma posologia e um tratamento curativo, e que afinal algo de estranhamente misterioso e bom lhe estava destinado.

Ela estava a viver um sonho tornado real. Perguntava-se se ele seria um príncipe encantado, um bandido ou um Zorro... Claro que seria um príncipe encantado, mas também ele bandido, também ele Zorro... Ele era um homem combativo, de espírito forte, mas todo ele envolto numa luz que ela nunca antes tinha visto.
Ele era o homem que ela queria para si.

Este é o começo de uma longa história de amor... Continua

Bárbara de Sotto e Freire

Coincidências

E agora que ia escrever uma parte importante da história, fui ler os últimos posts.
Reparei que o Universo conspira a meu favor há já algum tempo.
Ficas feliz?!

Bárbara de Sotto e Freire

terça-feira, 10 de julho de 2012

Adopta-me II

«Passei dias à tua procura. Não posso dizer que tenha sido à tua espera, porque não se espera por ti, procura-se por ti - o que é um paradoxo para matar o tempo, mais dinâmico, mais corpóreo, mais aceso também.
E, de tanto procurar na ausência, aprendi que esta é uma história extenuante. Uma história em que passamos todos muito tempo à procura. Talvez isso nos fortifique, e nos faça encontrar partes dispersas de nós, o que já não é mau. Cheguei a um ponto de desdobramento em que não estou contigo, mas sou contigo, e talvez tenha agora entendido que estar é pouca coisa. Ser é infinitamente mais. Eu sou em ti.
E de tanto procurar, de tanto ensaiar o que te diria quando por fim te sentisse chegar, passei a viver de uma outra forma. Contigo cá dentro. Minto, com a tua personagem cá dentro. E o que é a mentira senão a verdade de pernas para o ar? Garanto, agora garanto eu, que, nesta clivagem poderosa, vive-se com alma, vive-se com asas, de maneira a tocar a tua ilusão de azul-perfeito sempre que me apetecer.
Ainda não percebi porque será que tudo aquilo em que eu toco desaparece de repente


Adopta-me
Maria João Lopo de Carvalho


Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Adopta-me I

«Há um dia em que as pessoas morrem para sempre dentro de nós. Esse dia tinha chegado. O que nos torna ínfimos é a nossa incapacidade de ver. Essa cegueira disforme que nos impede de auscultar a vontade do outro, de vasculhar dentro da vontade do outro. Quando assim é, absolutamente nada nos ilumina e nem a intuição se encarrega de nos guiar. O amor nasce e morre dentro de nós quando muito bem lhe apetece. Sem aviso prévio. Sem rede. Nunca se sabe o ponto de açúcar, o momento certo para avançar no arame. A vara nas mãos, a olhar o céu, o coração suspenso. A todo o momento o arame, um risco fino, imperceptível, está e deixa de estar por baixo dos nossos pés. Tive de lhe dizer:
- É hora de ir embora.
- Nunca foste forte em despedidas. Não acredito que consigas.
- Até já.
Disse-lhe adeus e fiquei com a rigorosa sensação de que a grande mentira da minha vida tinha sido este "até já" hipócrita que se soltara da minha garganta para evitar danos maiores.
A perda. A falta. Fazer coincidir o coração com a cabeça dentro deste lugar anárquico que sou, onde nunca o coração obedece à cabeça. Consegui.»

Adopta-me
Maria João Lopo de Carvalho


Bárbara de Sotto e Freire

sábado, 16 de junho de 2012

Cari amici...

Cari amici,

Já tinha saudades da viagem solitária que a escrita me proporciona. Saudades dos momentos de reflexão e desabafo. Ao longo destes meses em que não escrevi senti falta da caneta e do toque do papel. Senti a falta do som das teclas que outrora os meus dedos  dedilhavam tão ou mais rápido que o meu pensamento. Durante esta ausência escrevi textos no meu pensamento mas não os conseguia transpor para um plano visível e palpável e isso deixou-me frustrada muitas vezes. Outras vezes quase me obriguei a escrever, mas acabei por apagar as palavras que saíram dos meus dedos, que saíam do lado mais racional desta minha cabeça complicada. Outras vezes fiquei a olhar para o ecrã branco e pensei "o que se passa comigo?". Vezes havia em que queria escrever, mas por razões profissionais, ou por outras obrigações, não o podia fazer. Mas ao longo da última semana, foi como se a necessidade de escrever fosse crescendo e as ideias fossem brotando, e enfim, cá estou eu, a escrever, furiosamente, a teclar, cheia de entusiasmo, e sorrindo, contra um ecrã que se enche, repleto de palavras, de sentimentos e emoções, de histórias.
In definitiva...
Ao longo destes meses de ausência a vida não foi particularmente afável comigo. Aprendi que as pessoas são inconstantes, encontrei mais pessoas escorregadias do que aquelas que esperei encontrar ao longo de toda a minha existência, aprendi que a vida não é preto no branco (acho que ainda não aprendi, mas é uma constatação cada vez mais frequente), e que há pessoas que merecem apenas um cartão de saída da minha vida sem qualquer V de volta. Ao longo destes meses despedi-me de muitas pessoas. Sem mais nem menos, as pessoas vão. Morrem, vão quando menos se espera, mudam de emprego, mudam de local de residência, mudam de local de trabalho. As pessoas que consideramos serem fundamentais para as nossas vidas terem algum equilíbrio vão. Aquelas pessoas a quem nós damos tudo para ficarem, a quem nós alimentamos a presença, a quem nunca daríamos razões para nos darem um bilhete de saída, ou a quem nunca daríamos um bilhete apenas de ida. A vida é controversa e amarga.
Non capisco!
Neste espaço de tempo foi Outono, foi Inverno, é Primavera, e quase Verão.
Contudo o tempo permanece incerto.
Dediquei-me a aprender as plantas, a ciência do seu uso. Fiz sacrifícios imensos para me tornar uma melhor profissional. Sacrifiquei horas dos meus dias e dias dos meus anos para ter as minhas tarefas laborais prontas a tempo e horas, com o mínimo de lapsos possíveis, com o maior brio e dedicação.
Até agora sinto uma coisa estranha... Trabalhamos para ser reconhecidos?
Naturalmente.
Ao longo destes meses, fiquei mais velha. Tenho brancas. Tenho rugas, olho para o espelho e vejo-me a envelhecer. Só me pergunto e me questiono acerca do que conquistei até hoje, até agora.
Pergunto-me se conquistei corações, se conquistei sorrisos, se serei importante para alguém ou para muita gente, se deixarei saudades. Pergunto-me até que ponto fui importante para o mundo.
Apaixonei-me e desapaixonei-me. Fiquei com raiva e depois fiz as pazes comigo mesma. Hoje acho que nem sequer me apaixonei. Raios partam o coração e as leis da atração ou lá o que isso é.

E foi assim, um devaneio de emoções, um afogar no trabalho para não ter que pensar no resto. Um resto que por vezes não há. Uma falha emocional grave. Foi assim. Desviar o emocional para o racional, para esquecer o que falta.
Que faltas lá tu no almoço de Domingo, que faltas lá tu ao telefone, que faltas lá tu com o teu sorriso, que faltas lá tu, qual pit bull, que faltam lá todos vocês.
Faltam lá todos vocês. Por isso estou imersa em mim.

Mi manca la tua presenza.
Voglio Dom.

Bárbara de Sotto e Freire