segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Natal....

São 6h30 da manhã e estou acordada desde as 3h00.
Daqui a umas horas tenho de ir trabalhar e é isto. .. Que sacrilégio!
Ainda por cima é Natal. Não é possível adormecer e acordar por volta do dia 6 de Janeiro?
Detesto o Natal. ... vem o pessoal todo às compras e querem coisas requintadas a preços de saldo... oh meus senhores!  Vamos lá ver se nos entendemos!  Saldos só para o ano... E depois é os embrulhos... "esse saco é muito grande" "não tem fita de outra cor" dá vontade de dizer "naaaaaaooo, quer melhor?  Faça você! "
Socorro, estou a sucumbir à azáfama natalícia.  Já não tenho idade para isto. ..
Dêm-me vacances, anulem o natal, mandem as renas de volta para a Lapónia que para mim chega.Basta!
Tá tudo cancelado. Tudo, excepto os meus pedidos ao pai Natal. :)

Bárbara de Sotto e Freire

sábado, 13 de dezembro de 2014


Solidão

Vagueio

por entre o Vazio que me preenche

pela solidão de que me sou

e sinto


Vagueio

por entre o olhar indolente

dos confrontos injustos

da solidão de mim comigo

do SER de que sou Vazio

do Vazio que me enche

Envolvendo

Esquecendo

                   Levando consigo


Só o (meu) Vazio



Vagueio

solitariamente por este beco

por este mundo sem céu

sem teto

preenchido do Nada

que é a solidão

E o não

da mão que não se dá

do abraço que não se sente

do amor que não se entende

do olhar

que Nada compreende

o SER errante que sou


que ninguém tende a ser

o SER Vazio



Vagueio

Sentida a brisa leve soltada pelo vento

que sem rumo ou destino amacia

que me guia o alento

que como fado acaricia a alma

de quem segue solitária

pelo Vazio


Vagueio

E atiro-me desta falésia dourada

Por este precipício

Drogada

E pertenço ao Infinito

ao Infinito do Nada


Mas espreita a aurora

e os raios quentes do sol despertam-me

da droga maravilhosa

que é estar

Livre do Nada

Cheia de Infinito

Saciada de ilusão

que não acaba


Do sonho

Do prazer de SER Vazio

De estar no Infinito


Abandono-me

(e) então vagueio

perseguida pelo Vazio

usada pela solidão


e no silêncio do Nada

vou ousando

ser Drogada

e atiro-me

para sempre


da falésia

para o Infinito

do (SER) Nada

 

Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

As palavras que nunca te direi

     Escrevo-te, hoje, o que há muito guardo dentro de mim. Talvez estas sejam as últimas, ou as primeiras, de muitas palavras de um coração aberto, mas abafado e triste; as palavras, últimas ou primeiras, de um coração liberto de mágoa, ou de ódio. Como te digo, escrevo-te hoje, pela última ou primeira vez, aquilo que sempre senti mas nunca te sussurrei. Com amor.
Entraste na minha vida como uma brisa que sopra de leste. E tal como a brisa que sopra de leste, levemente e baixinho, foste entrando, e eu deixei. Amei-te. As palavras nunca foram a nossa união, mas o nosso muro, a nossa barreira. 
Amo-te?! Pergunto-me muitas vezes a mim mesma o que é o amor, o que é amar-te. Ainda não encontrei a resposta, porque ainda não te encontrei. Nem quero...
Mas, controversamente, no meu silêncio casto vou-te procurando. Vou olhando para a magia dos teus olhos, sempre doces, e sempre meigos, e não os quero ver. Sabes porquê? Porque tenho medo de escolher entre um passado triste e um futuro sublime. Tenho medo de escolher entre ti, ou uma vida rodeada das minhas memórias, das minhas aguarelas já envelhecidas, dos meus textos, das palavras que me aprisionam e me impedem de chegar, livremente, até ti, amor.
       Sussurro então ao vento de leste que me dê uma chance. A chance de te encontrar sem te tocar, sem me puxares, pelo coração, para esse lado. O lado meigo e sincero da vida, onde as coisas são sempre naturais como o respirar, e simples como o som das ondas do mar. Mas sem querer, ou poder, porque a vida pode ser construída por círculos perfeitos, ou por formas irregulares, sinto-me acarinhada pelo teu olhar. Os teus lábios são bem delineados, e sempre os apreciei. E eles pedem-me, sem falar - porque as palavras são pedras - um beijo, uma carícia, uma ternura. As tuas mãos... São alvas, e notam-se nelas todas as veias, como se toda a tua vida fosse um espelho transparente, à espera que um raio de sol lá se reflicta. Serei eu esse raio de sol que te iluminará a alma... Mas as tuas mãos esguias, e alvas, e macias, como que me chamam para que eu me entrelace eternamente nelas... O teu cabelo... não to defino, nem te defino de tão esparso, de tão bela e pura que é a tua, a nossa, essência. 
Mas tu estás desse lado, e eu e as minhas palavras estamos aqui, deste lado, como que a querer fazer o impossível. Eu estou aqui. Também eu estou à tua espera sem o saber. Quero, mas não entendo racionalmente essa vontade, meu amor.
          Desespero calmamente deste lado, com as minhas palavras. E tu permaneces firme no teu silêncio, com o teu olhar vivo, doce, e meigo, a percorrer-me o corpo e a invadir-me a alma. Mas as palavras não são tudo. E, então, entrego-me finalmente ao teu amor. Calmamente desço a ponte que nos separa, e os teus braços abrem-se. E tudo num segundo, numa eternidade que permanecerá gravada para sempre na minha memória, nas minhas palavras, no meu coração. Embalada pelo teu corpo, e pelos teus movimentos singelos, deixo-me levar, como se fosse, também eu, uma princesa, bela e esguia, de traços finos, e de olhar doce, e de coração puro. Deixo-me ir, e as minhas mãos tocam finalmente nas tuas, e os nossos olhares encontram-se, frente a frente... O teu olhar ilumina-se de uma vivacidade sofrida. E a nossa pele toca-se, pela primeira vez. Os teus lábios encontram-se com os meus e então tudo deixa de ser teu ou meu e passamos a ser nós. Amor; meu amor. 
        Nunca te direi estas palavras.

     Embalada pela solidão da distância que nos une, deixo-me ir, e os nossos corpos, puros, despem-se na penumbra do dia. Tocas-me docemente como que perguntando-me, sem palavras, só com os olhos e com as mãos, se te quero, se quero o momento que persegue o destino dos infiéis. E eu, passivamente percorro-te o corpo com o meu olhar. Despidos, os dois, de palavras, de preconceitos, perante o pôr do sol; despidos e simultaneamente repletos de um amor que nos invade por todo o sempre. E a brisa sopra, devagarinho e leve, de leste. Então, como se de algo divino se tratasse, apaixonamo-nos e deixamo-nos levar pela corrente de amor que nos une. Mas permanecemos ambos virgens, de qualquer marca, de qualquer sentimento, ou palavra. Porque o nosso amor é assim: puro e casto, como uma vela que permanece acesa, mesmo com a brisa de leste a soprar, levemente e baixinho. É um amor puro e casto, como o nosso olhar, como as nossas mãos. Mas nenhuma palavra se troca entre nós. Nenhuma palavra. Apenas o silêncio do amor. Mas tu sabes, eu não amo sem palavras.
       E esquece-mo-nos ambos de um pormenor. 
       É que eu continuo do lado de cá, com as minhas palavras, e tu desse lado, do lado do coração. Do lado do destino dos que amam e vivem para o amor. Tu permaneces desse lado esperando por um entardecer, que eu acredito que será mais belo que este que eu imaginei e te senti. Jamais esquecerás o meu ramo de violetas, e o meu perfume de lavanda silvestre, e eu jamais esquecerei o teu silêncio puro e convincente de que sou realmente a tua princesa... mas não... não quero ser a princesa das palavras mortas. Jamais esquecerei que exististe, e sei que tu permaneces – e deves permanecer - desse lado, acreditando no entardecer, esperando por um raio de sol que te ilumine a tua pele alva, e a tua simplicidade. Desejo-te eternamente, como me desejaste. Mas nada entre nós será possível, meu amor. Nada. Porque entre nós existe o mundo, o tudo e o nada, o emocional e o racional. Entendes? Não, eu sei que não entendes, porque estas são as palavras que eu nunca te direi.

       Procuro-te pelo mundo sem querer, e tento vislumbrar nos olhos dos homens que se cruzam comigo, nesta vida de formas indefinidas, a pureza e a leveza que só tu transportas. Tento encontrar alguém com os teus movimentos, calmos e seguros, crédulos de que um dia aparecerá um raio de sol. Sabes, meu amor, procuro sem querer procurar. Porque me refugio subtil e infielmente nas palavras que nos separam. Jamais serei digna do teu amor, e jamais pertencerei ao teu mundo. Fiz com as palavras um trato eterno. Um trato de vida, e de morte, e de sangue. 
        Meu amor... estas são as palavras que nunca te direi. 

    Espero nunca te encontrar, porque sou fraca, e tenho medo que o meu coração estremeça quando te vir e te reconhecer. Por favor, tal como o vento que sopra de leste vem e vai, por favor volta para esse lado da ponte que nos separa, e nos une, porque acredita que haverá alguém capaz de te amar mais pura e sinceramente que eu. Eu irei sempre pôr reticências, e estarei sempre insegura da minha sinceridade para contigo, e da tua fidelidade para comigo. Estarei sempre com o medo do abandono e da rejeição. E estarei sempre com a  vontade de ser livre e de amar as palavras. Isso basta-me, entendes?! Por isso não tenho o direito de te aprisionar. Por favor segue o teu rumo, e sussurra, como uma brisa de sul, aos ouvidos da tua princesa, todo o teu amor, verdadeiro e puro. Amar-te-ei para sempre e eternamente, mas não quebro promessas. E por isso, porque te amo, e porque, acima de tudo, te respeito, e respeito a simplicidade da tua forma de amar, na vida e na morte, não quebrarei a promessa que tenho para com as palavras. 
      Antes de me despedir, para sempre, deixa-me dizer-te, que, se o amor existe, então eu amo-te. Mas sou cobarde, e justa, e fiel. Desejo, do fundo do meu casto ser, que a felicidade que te pertence seja tua... 
     Vai, mas não te esqueças de que eu te amo, e de vez em quando, sem que eu me aperceba, vem ter comigo, e, sem palavras, faz-me um carinho, dá-me um beijo, e faz-me sentir na pele aquela brisa que nos faz arrepiar a alma: a tua, a nossa, eterna brisa de leste.
       Amo-te.
       São estas as minhas palavras para ti. 
       As palavras que nunca te direi.

Bárbara de Sotto e Freire

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014


O meu divã de Marraquexe

Pela janela deste meu escritório, deste meu refúgio, desta minha pequena caixinha, baixo as persianas de modo que entrem apenas pequenos raios de sol, filtrados pela forma das mesmas. Lá ao fundo, bem ao fundo, o mar. Deito-me no meu pequeno sofá, com as pernas por cima do encosto, com a cabeça pousada sobre uma cadeira almofadada, e a face virada para o infinito. Ligo a minha mais recente aquisição musical – o CD de música clássica com sons de mar – na minha pequenina aparelhagem; coloco o som numa altura amena, ligo o aquecedor no mínimo... a Nina faz-me companhia. 

A Nina é uma cadela que encontrei abandonada a semana passada; ainda é muito pequenina, e tem os olhos cor de avelã escura. É preta e castanha e tem um focinho que maravilha qualquer alma. Juntamente com a Mia, a gata que puseram aqui na porta de minha casa faz agora três meses, dá-me à alma a ternura de que preciso para me sentar e escrever. Ambas são fonte de carinho, de meiguice, de paz. Ainda não estão bem acostumadas uma com a outra; a gata toma conta da cadela, e assume um papel maternal, embora defenda muito o seu território, e não permita à cadela muitas brincadeiras.
 Penso que se vão entender bem e num futuro próximo espero vê-las a dormirem juntas, a brincarem juntas e a fazerem-me sentir um pouco realizada.

Fecho os meus olhos perante estas réstias de sol, onde se vêm algumas partículas a pairar, e divago pela minha mente.
Vou para o meu lugar inventado, onde também eu não sou eu, mas a Bárbara... e estabeleço comigo mesma uma conversa franca e sincera, de tudo o que fui e sou, mas tudo não passa da minha imaginação, do meu lugar inventado, com a minha gente, com as pessoas que sonho, com as personagens que construo, por entre intervalos de sono.
Mas o meu lugar inventado, esse meu lugar, é de uma beleza tão idílica que se torna difícil de exprimir por palavras o que esse lugar é, para mim. As palavras tornam-se limitantes perante a magia do sonho, da ternura e das lambidelas da minha cadela, que me fazem estar entre dois mundos tão diferentes, mas igualmente reais.

Sento-me no meu divã de Marraquexe, numa varanda com soalho de madeira. A varanda é muito grande e extensa. Atrás de mim uma grande porta de correr, toda ela em vidro, por onde o ar passa e remexe as cortinas de seda fina, quase transparentes. Ainda atrás de mim algumas plantas, num canteiro com um design sui generis... ao meu lado uma pequena mesa onde repousa um livro, uma lapiseira, e um copo com algo alaranjado no seu interior. Um sumo de toranja e manga, com dois cubos de gelo. Óptimo! Do meu outro lado e um pouco atrás está o meu cavalete, com uma tela em branco. Uma pequena mesa tem os meus pincéis, as minhas tintas, os meus jarros de água, e algumas misturas de cores. Para além da varanda, de madeira cruzada, talvez de carvalho ou de cerejeira, estende-se o infinito. Uma praia deserta, de areia branca e fina, e depois, logo ali, bem perto da minha varanda inventada, o mar. 
A maré está baixa e vêm-se algumas rochas que parecem flutuar sobre a leveza das águas calmas e límpidas. Não vejo mas sei que logo ali há pequenos cardumes de uns peixes pequeninos... 

São parecidos a uns que eu costumava apanhar e pôr em frascos quando vinha da escola primária e, mentindo à minha mãe, fazia um atalho pela Fonte do Marau, onde me deliciava a apanhar umas plantas esquisitas de tão requintadas que eram, e uns peixinhos que não o pareciam, mas nadavam por ali... divertia-me imenso... sobretudo depois de me dar conta que tinha roubado os frascos do mel vazio que a minha mãe guardava religiosamente até à próxima colheita, e sentia os braços, curtinhos e redondos, completamente encharcados. E por momentos era criança, uma criança feliz... 

As ondas são baixinhas, e o som do mar confunde-se com o ruído da minha música clássica, que soa de uma sofisticada aparelhagem com som sorround na varanda. Na minha varanda inventada, claro! Por entre um Mozart, um Bach, uma Maria João Pires, vão-se soltando as ondas e sente-se a paz do infinito.
A cozinha, com uma mesa de madeira de carvalho, grande, e com apenas dois bancos compridos, um de cada lado, daqueles que se usavam antigamente, e que a minha bisavó tinha na cozinha... e um fogão a lenha, onde de vez em quando cozo a minha fornada de pão. A um canto da cozinha há uma chaminé, também daquelas antigas, e sob ela jaz uma panela preta de três pernas, semelhante às dos filmes das bruxas, e como a da minha bisavó, da qual guardo muito boas memórias. Há uma banca de mármore, e muitos armários de madeira de estilo rústico. Do outro lado, mais junto à mesa, nasce uma parede que não esconde nada: dela emergem duas grandes janelas das quais se vêm as montanhas. O ambiente é acolhedor e colmatado pelas cortinas de linho.
Regresso à minha varanda, ao meu divã. É um divã de Marraquexe, daqueles de palhinha entrançada e com duas curvas sinuosas em ambos os topos. Sobre essa palhinha uma almofadão revestido a algodão branco pérola. Sentada no divã, com uma pele dourada e luminosa, com um chapéu de abas largas a proteger-me o rosto delicado, e um vestido solto, tento respirar a paz daquele meu cantinho inventado. Não sei onde pára a minha mente, nem o meu espírito. Estou em plena harmonia com os sons e os cheiros que me rodeiam, com o conforto que me é oferecido, e esqueço-me de mim, de tão absorta que estou nessa viagem que faço. 
Está a entardecer e o sol está a pôr-se no horizonte. Levanto-me, e descalça, sigo até à varanda onde me apoio. A brisa torna-se um pouco mais forte e tenho de segurar o meu chapéu. Semicerro os olhos face ao sol que se põe. Sinto o chão sob os meus pés, a natureza ao meu redor, e diante de mim o infinito. E uma paz calma e serena - de quem concluiu tudo o que tinha a concluir, inclusive a tela branca esquecida sobre o cavalete - invade-me, fazendo-me entrar num êxtase de alma, pairar, olhar para o céu e senti-lo dentro de mim, ver o mar e reflectir o seu brilho nos meus olhos, cheirar esta beleza, e expirar paz...Está a arrefecer cada vez mais e o meu vestido esvoaça. Mas não me apercebo do frio que me aconchega a alma. Entretanto vem a Maria com um xaile de lã. Pousa-mo suavemente pelas costas, beija-me a tez, e passa-me para a mão uma caneca de chá branco, perfumado. Sorri para mim e tal como apareceu, esvai-se.
A Maria é a minha ama inventada. É aquela personagem que construí e que nunca deixará de habitar o meu imaginário. Foi uma ama boa, uma companheira estupenda na adolescência, e nunca me abandonou, seguindo sempre lado a lado comigo, dando-me conselhos de vida, com a sua experiência de mulher viúva. Permanece comigo neste meu mundo inventado.

O sol deixa de estar forte, e por isso tiro o chapéu. Bebo o chá quente que transpira o frio da brisa marítima, e pouso a caneca no chão, junto dos meus pés. Agarro-me à varanda e os sons de um piano ao fundo confundem-se com o bater das ondas. O céu fica súbita e gradualmente mais cinzento, pressagiando uma chuvada, quem sabe uma tempestade... não, não é tempestade, porque a areia que está debaixo da minha varanda está seca e mantém a sua cor pálida... quando vem tempestade ela fica húmida e um pouco mais grossa. Enquanto os meus pensamentos se debatem sobre o tempo que irá fazer durante a noite, começa a cair aquela chuva miudinha que eu tanto gosto. A intensidade da chuva vai aumentando, e o abandono o meu xaile junto à caneca do chá, e do chapéu. Salto, pela varanda, para a areia, agora húmida, e o meu vestido cola-se ao meu corpo de tão encharcada que estou. A chuva sobre a minha pele dourada confunde-se com as minhas lágrimas. Mas são lágrimas puras, que vêm de dentro de uma alma sinceramente triste... alguns sorrisos escapam dos meus lábios quando pequenos raios de sol despertam por entre os chuviscos e lá ao fundo, para além da linha do horizonte, forma-se um arco-íris. Estou encharcada, com a roupa colada ao corpo e nunca me havia sentido tão bem, tão... eu. 
A Maria chama-me, preocupada: “menina, menina”. Abandono então os meus pensamentos, salto para a varanda com algum esforço, porque é realmente elevada da areia, e olho para a expressão preocupada da Maria. Já pegou em tudo o que estava ali no chão, e cobre-me com um toalhão fofo, onde me enrosco. 
Ela abraça-me. Afinal sou a sua filha. Sou a filha de uma personagem estéril. Filha do mar.
“A banheira está cheia, pus os sais de banho que mais gosta, o quarto está aquecido, e vou-lhe preparar uma sopinha não vá agora ficar doente” diz-me com a sua voz meiga. “Não te preocupes comigo, Maria, já tenho idade para me cuidar”, respondo. Ouço-a a falar baixinho, mas não percebo nitidamente o que diz... mas imagino que vai a pensar alto... “se não fosse eu, o que seria de si, menina; lá tem idade para se cuidar?!, estas meninas, hoje em dia...”
Dirijo-me ao meu quarto, e vou deixando o meu rasto pois estou tão encharcada que marco tudo por onde passo. Chego ao banho e a banheira fumega; as paredes estão embaciadas, e o ambiente está ameno. Então, dispo-me, e mergulho na banheira, com a água quente a lavar-me a alma pura, com o bafo morno a sugar-me os poros do frio, e o cheiro das violetas e encharcar-me o espírito. Lá fora chove, o sol ainda não se pôs, oiço o mar, mas a Maria já desligou o meu som. Deixo-me estar nesta paz, onde as lágrimas me purificam, e o calor das águas me abraça.
Entretanto uma onda mais forte faz-me sentir que tudo isto é no meu cantinho imaginado, onde tudo não passa de sonho e fantasia, mas onde o mundo que vivo e o que sonho se fundem num só, como uma tela branca, sobre um cavalete, à espera dos traços do pintor. E os pintores da vida somos nós.

“Até logo Bárbara, durma bem” diz-me a Maria, aconchegando-me os lençóis e dando-me um beijo de boas noites.
A Maria despede-se de mim, como uma mãe. Fecho os olhos, enrosco-me nos lençóis e num edredão de penas, e tento encontrar um calor que me insone a alma, como se encontrasse naquela cama os braços de uma mãe que me aconchegam, ou os braços da minha metade, que algures paira, e que ali estariam para me proteger.
A noite chegou, e as penas deixo-as ir com a brisa, porque a alma, essa, jamais estará limpa da tristeza, como a minha tela branca, que sem estar pintada, ficou manchada pela chuva.
“Adeus Maria, dorme bem”...e na minha mente esvoaça o pensamento “quem sabe amanhã já cá não estarei para me adormecer na solidão, para receber os mimos estéreis da Maria, e para mudar a tela do cavalete. Talvez amanhã já eu própria seja mar, música, chuviscos e areia branca. Talvez..."

Bárbara de Sotto e Freire

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Paciência procura-se

Preciso urgentemente de comprimidos para a paciência. ..
Se alguém souber de algum sitio onde não estejam esgotados por favor avisem!

Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Princesas, rainhas e afins

Gostaria eu de ter vida de princesa ou de rainha. Por isso não deixo de apreciar as notícias dos tablóides sobre Kate Middleton e afins da realeza.
 
A Kate veste bem, está sempre bonita, com um sorriso fantástico, a pose correcta, não há nada que se lhe aponte. Mas sobre a sua mais recente gravidez, eu ponho-me a pensar… Se a Kate tivesse um trabalho e não um emprego, como faria ela com os fortes enjoos matinais que a levaram a refugiar-se três meses em casa dos pais, acompanhada do filho e da babysitter? É que não estou a ver muitas grávidas a ficarem de baixa devido à hiperemese gravídica de que Kate sofre. Muitas vezes trabalham duro até ao final da gravidez, e finda a licença de maternidade deixam os suas crias em creches, como peixinhos largados num tanque de tubarões, porque não há outra solução possível… E a realeza dá-se ao luxo de se ausentar de atos oficiais por enjoos, embora tenha todo um staff aparatoso por detrás que auxilie em todo e qualquer passo, e depois do parto há sempre uma babysitter e só se pega no bebe para a fotografia…
 
O que me repulsa não é a ostentação, nem a diferença entre ricos e pobres, porque essa diferença irá existir sempre, o que me repulsa é uns terem emprego e muitos outros um trabalho. O me faz moer a cabeça é pensar que o exemplo tem que vir de cima, dos governantes, e daqui não se tira exemplo nenhum, a não ser que uns nascem com o rabiote virado para as estrelas, e outros, coitados, nem por isso. 
 
Bárbara de Sotto e Freire 

domingo, 2 de novembro de 2014

Dia de fiéis defuntos

Na minha terra os dias de fiéis defuntos de todos os Santos são comemorados como manda a tradição. As pessoas vão à missa, seguem a procissão e depois param nas campas das suas famílias. Dias antes, lavaram as campas até à exaustão, engalanoaram-nas com as mais bonitas flores e arranjos, até de floristas, para que nos dias sagrados sejam as mais vistosas e mais bem faladas.
 
Nestes dias custa-me muito assistir a este tipo de cerimónias. Normalmente não marco a minha presença, embora interiormente sinta um profundo pesar pela família e amigos que já partiram e que saudosamente habitam no meu coração.
 
Os dias 1 e 2 de Novembro não marcam o pesar dos mortos, a saudade dos que já partiram mas que continuam a habitar bem perto do nosso coração, para a maioria das pessoas. Infelizmente, são dias em que se sai de casa de fatiota nova, para se ver e ser visto. As mulheres de cabelo arranjado, pintadas como se fossem para uma festa, envergando trajes novos e nobres; os homens de fato novo, muto bem aperaltados, até parece que vão para um casamento. A competição das flores nas campas, qual concurso que desconheço. As pessoas a trocarem comentários sobre como vai vestida fulana e cicrana.
Não desdenho as roupas novas. Antes pelo contrário. Deveria ser hábito de culto irmos bem arranjados, na nossa simplicidade. Não desdenho as flores, mas pergunto-me se gastar rios de dinheiro em arranjos em floristas vão levar os defuntos ao céu. Aquilo que me questiono é o porquê de transformar um dia Santo e tão pesaroso num dia de ostentação e luxo, onde o sentir não está presente.
 
Vou fazer os meus fiéis esta semana. Passo pelo cemitério, acendo umas quantas velas numas quantas campas, converso com quem lá tenho, choro à vontade, sem ter ninguém a olhar para mim e a pensar “coitada, esta até fala com os mortos”. Sou simples. Tenho saudades não mensuráveis dos meus avós, que partiram recentemente. Tenho gente que amo arrumada num pedaço de terra, e acredito, num bonito pedaço de céu.
 
Só morremos quando somos esquecidos do coração daqueles que nos amam…
Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Não compensa o que se perdeu, mas pode ajudar a valorizar o que ficou...

Hoje li no Blog “Escrever Fotografar Sonhar” Algo no qual me identifiquei. Algo que parecia escrito de ti para mim… Se eu soubesse que tinhas sido tu a escrever-me como as coisas se tornavam mais fáceis!
 
“Neste momento nada do que eu possa dizer interessa. (…) Vestiste uma armadura e recebeste o embate sem vacilar. No auge da batalha fraquejaste algumas vezes, mas nunca perdeste o foco ou a razão. (…) Sabes que não podes usar essa armadura para sempre. (…) A adrenalina acaba e a dor chega sem pedir licença, implacavél e bruta. Aceita-a, abraça-a, chora, grita, liberta tudo. O que ficar dentro de ti só te fará mal. (…) Nunca mais serás a mesma. Ninguém volta da guerra como foi. (…) Isto não compensa tudo o que se perdeu, mas pode ajudar a valorizar o que ficou.”
 
Continuo a sentir saudades tuas. O amor não abrandou. E sim fiquei chateada por saber que já estás a viver com outra mulher. Como pudeste tu trair a nossa memória? Como pudeste tu esquecer-te tão rápido que era eu a mulher da tua vida?
 
Agora acredito que as palavras são pedras. Espero que sejas feliz, e que um dia possas experimentar a paz que eu hoje sinto.
 
Bárbara de Sotto e Freire

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Restart

Escrevo porque sim. Escrevo por mim, porque me cura, porque as palavras me ajudam a lavar a alma, e me permitem transmitir para o mundo real aquilo que vai dentro de mim mesma.
Hoje estou em paz comigo mesma. Cheguei aquele ponto em que sinto que independentemente do tempo e do espaço, independentemente do meu passado, das minhas escolhas, das pessoas que o habitaram, do perdão que hoje lhes consigo, ou não, dar, da saudade que sinto, de quem me rodeia, das opiniões que ouço, só eu valho por mim. Só eu sou capaz de determinar a minha vida. Só eu sou capaz de tornar a minha existência mais significativa, mais feliz. Só eu posso valorizar, ou não os comentários dos outros. Só eu posso amar-me e cuidar de mim. Esse poder está em mim. E hoje, sinto uma paz imensa, como não sentia há muito tempo.
Este é o novo tempo. Está na altura de recomeçar.
 
Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Não sei viver sem ti...


"Pensei que fosse mais fácil contigo longe
afinal
dói muito mais a tua ausência
de que a indiferença da tua presença
por isso peço-te
volta

Sais-te a correr
nos meus olhos ficou a chover
e o sol parou de brilhar
e o vento de soprar

Um coração que fingiu
afinal foi o teu que partiu
com a minha ternura
foi para ti uma aventura

Não quero pensar que não esteja a sonhar
não quero saber se é humilhante dizer
só, te peço
volta pra mim
não aceito que chegou o fim

Não sei viver sem ti
não vou esquecer o que vivi
o que disseste, o que quiseste
foi apenas brincar sem saber que o amar
não é assim em vão
quebra-se logo o coração
onde é que errei?
o que é que não dei?
pra ver de repente que estás longe, indiferente.

Ainda sonhei
mas em vão porque logo acordei
estou tão revoltado
sinto que fui enganado

Fui parvo em acreditar
que a saudade iria ganhar
fico à espera
que um dia possas voltar

Se o céu conseguisse
que uma porta se abrisse
se o vento soprasse
e eu depois te encontrasse
quero apenas
uma explicação
porque deixaste o meu coração?

Não sei viver sem ti
não vou esquecer o que vivi
o que disseste, o que quiseste
foi apenas brincar sem saber que o amar

Não sei onde isto vai dar
eu sei que errei
vai ter que me perdoar
sabes só te peço
volta pra mim
pois eu não aceito
que chegou o fim

Não sei viver sem ti
não vou esquecer o que vivi
o que disseste, o que quiseste
foi apenas brincar sem saber que o amar
não é assim em vão
quebra-se logo o coração
onde é que errei?
o que é que não dei?
pra ver de repente que estás longe, indiferente."


Excesso

Link: http://www.vagalume.com.br/excesso/nao-sei-viver-sem-ti.html#ixzz3Ff0egZr6
 
Bárbara de Sotto e Freire
10 de Outubro de 2014

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Fique Optimus com a Optimus Home!

Faz hoje 6 anos que deixei a Optimus Home para abraçar um outro grande desafio.
Nestes 6 anos cresci muito enquanto pessoa e profissional, aprendi muito, assisti ao crescimento de um conceito, de uma marca, da qual me orgulho, e que muito me apraz fazer parte.
Contudo nunca poderia deixar de esquecer quem me viu nascer atrás de um telefone, a vender telefones. Uma casa que me ensinou as máximas que ainda hoje emprego, uma família que me levou longe. Digo que será muito difícil na minha vida encontrar uma equipa tão especial como aquela que encontrei na Optimus.
A vida é feita de sentimentos. Não podia deixar passar o dia de hoje sem enviar um enorme abraço para toda a família OH de há 6 anos atrás do Call Center Ferreira Dias.
Um abraço cheio da saudade que só os amigos, a distância e o tempo conhecem. Um abraço repleto do espírito sincero de que era feita a nossa equipa, da imensa humanidade que nos juntou. Até sempre.
 
Bárbara de Sotto e Freire
06 de Outubro de 2014

domingo, 5 de outubro de 2014

Será que o amor acontece?

Hoje pergunto-me se realmente o amor acontece.
Foste único comigo. Acompanhaste-me às consultas, deste-me carinho, amor e proteção. Fomos viver juntos, e o nosso amor aconteceu, assim, tal qual ele era, sincero e transparente, porque para mim, tu eras a minha pessoa. Aquela pessoa especial que eu amei de forma autêntica. Aquela pessoa especial que todos os dias eu tentava compreender e me dava, de forma, original, divertida e sorridente, o seu amor.
Contudo, o tempo foi-nos desgastando.
O facto de termos alguns gostos diferentes levou-nos a estar cada vez mais afastados um do outro. Eu penso que foi isso. Julgo que foi o facto de tu gostares de voar com os teus aviões telecomandados, e de eu gostar de estar em casa, a ver televisão, com uma manta e uma caneca de chá, entre muitas outras diferenças que eu poderia apontar, que nos levou a discussões que se tornaram cada vez mais acesas, cada vez mais frequentes, cada vez mais dolorosas. A certa altura senti-me incompreendida, sabes? Não conseguia perceber a tua distância. A distância do homem que eu amava. E isso ainda me fazia sofrer mais dentro do meu sofrimento. Não consigo pôr-me no teu papel e fazer de mim o meu namorado… sei que é isso que tu, que me estás a ler, neste momento, me pedes. Mas não consigo inverter os papéis. Quando tento acho sempre que teria uma postura mais compreensiva e não tão fria. Eu que no início deste relacionamento achava que era a voz do ser racional e que não deixava falar o coração! Consegues ver o quanto me mudas-te? Eu amei-te de forma tão intensa, tão intrínseca, tão mágica e única, entreguei-me a nós como se o nós fosse a razão da minha existência, e aprendi tanto! Mas sabes, sofri muito também.
 
Em Novembro a nossa relação foi à rutura. Quiseste que eu saísse de casa e a minha mãe não me deixou voltar à casa dela. Aí achei que o mundo estava do avesso. Só me questionava porquê? Porque é que o Afonso me está a causar tanto sofrimento? Porque é que a minha mãe não me aceita de volta? Qual o motivo de uma história de amor acabar assim?
Chorei todos os dias por ti. Todos os dias te liguei a suplicar uma nova oportunidade para nós. Mas tu, Afonso, estavas irredutível. Tentei, por tudo, que os teus olhos, são lindos os teus olhos, se voltassem para mim, e só algumas semanas depois tu me deste a possibilidade de falar contigo pessoalmente.
 
Tentamos de novo viver juntos. Mas no mesmo dia em que me mudo para tua casa, tu dizes-me que não estás para me aturar.
Essas foram, até hoje, as palavras que mais me doeram, que mais me feriram a alma. Por mais que lave a minha memória, não consigo esquecer estas tuas palavras. Nem tudo o que te disse foi justo, muito longe disso. Mas jamais disse algo de tão grave que ficasse gravado na tua memória, como "aquelas palavras terríveis", como "as palavras que quando lembro tenho de fechar os olhos para não doer tanto".
Não me querias aturar?! Eu também não. Eu só queria estar contigo. Partilhar a felicidade dos meus dias com o príncipe que encontrara, livrar-me da infelicidade ao lado da minha pessoa, construir algo de que me orgulhasse ao olhar para trás, sempre contigo.
De facto depois disso ainda conversamos, mas a determinada altura eu não quis mais a minha pessoa para mim. A relação estava a ser muito conturbada, estava a prejudicar-me como nestes últimos meses. Eu queria alguma estabilidade, e era tudo o que eu não tinha contigo. Em Janeiro despedi-me de ti.
Mas nunca me esqueci do homem fantástico que és, da pessoa maravilhosa com quem partilhei momentos únicos e inesquecíveis.
Nunca me esqueci do teu pequeno-almoço, das tuas chamadas, do facto de me chamares "meu amor"… Nunca me esqueci do toque das mãos, nem do teu cheiro. Neste tempo que passou, jamais me esqueci de ti Afonso. Vou levar-te comigo para onde quer que eu vá.
Guardo memórias fantásticas do tempo que passamos juntos. Adorei atirar-te à neve, Amei a primeira viagem que fizemos juntos. Tu lembras-te?! E Porto Antigo? Foram dos dias mais especiais que tive… Tenho saudades dos teus cozinhados. Quero que saibas que ficas-te guardado num lugar bem especial.
Hoje desvinculei-me de ti. Há tempo de mais que chorava pelos cantos, que sonhava contigo, que me perguntava pelo meu Afonso, sabendo que já não eras meu, que nunca tinhas sido meu, mas alguém que tinha dado uma nova luz à minha vida. Hoje decidi reaver a minha energia projectada em ti e voltar ao meu caminho.
Não é solução viver enlutada por um homem vivo. Acho, sentidamente, que mereces ser feliz. E eu também. Guardo dentro de mim o Afonso minha pessoa. Brilha por onde fores. Para onde fores. Por onde o tempo te levar.
 
Bárbara de Sotto e Freire
04 de Outubro de 2014


Bárbara de Sotto e Freire
05 de Outubro de 2014

sábado, 4 de outubro de 2014

Bom dia!

"O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma a este dia."

Albert Einstein

Bárbara de Sotto e Freire
04 de Outubro de 2014


                                 

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Ser grande


Bárbara de Sotto e Freire
02 de Outubro de 2014

sexta-feira, 23 de maio de 2014

A polémica dos quadros de Miró


Se há assuntos em que não me envolvo muito são os da política... Mas de vez em quando lá tem que ser.

Penso, desde já, que aqui existe, mais uma vez, uma dicotomia entre a esquerda e a direita, não sendo eu apologista nem de direita, nem de esquerda, nem de qualquer outro partido político, já agora que estamos em época de eleições. Normalmente, atrai-me um projeto, a convicção de um candidato (que promete e depois não faz, mas a esperança é a última a morrer), e aqui vou eu contente às urnas, dar o meu contributo eleitoral...

Depois há os que dizem que Miró não era português, nunca deu muito relevo, nem demonstrou interesse pelo nosso país, e vai daí que toca a vender os quadros, para ganhar mais uns euritos.

Eu tenho para mim, que apesar de Miró não ser português, era um artista. E um artista deve ser valorizado em qualquer parte do mundo. Valoriza a arte e a cultura de um país. Valoriza o património deste. Valoriza o país enquanto afirmação de si. Atrai turistas, gera fluxo de pessoas... E isto, vendo numa perspectiva político-financeira, gera dinheiro (é claro que os quadros tinham de estar à vistinha de todos e em bom estado de conservação, e não "botados" ao abandono cheinhos de pó como se fossem meras pinturas de um imitador desconhecido). E não é por nada, mas o "fulano que não ligava muito a Portugal" pintava muito bem.

Por isso vamos perder património.Cultura. Style. Sim, isto é style. A troco de quê? Dos quadros irem a leilão, de uma leiloeira muito conhecida, e de se ganhar uns euritos... E sabem que mais? Ao Domingo vou pegar nos meus quadros, assinados por Je Moi Même, e vou para a Feira da Ladra. Perco patrimómio, mas meto graveto ao bolso!E quem sabe, até ganho fama. E depois da fama, ensino aos políticos que quem manda aqui é o Zé Povinho!

E não é que os jogos do poder ganharam outra vez?

Aprender técnica, é com os artistas!... Ou com os que imitam sê-lo... Enfim!


Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Em tua memória II

Não contava com a tua súbita  partida. Sei que estavas em sofrimento e que ias várias vezes ao hospital. .. e que tinhas estado em coma. Sei que vivias aprisionada. Mas caramba, porque é que deixas-te de lutarPorque é que não me deixas - te despedir de ti? Sentir a tua pele, dar-me as mãos, fazer-te um carinho, olhar nos teus olhos, e ouvir a tua voz?

Sei que agora estás com o Menim aí em cima, mas eu fiquei sozinha. .. e  continuo a amar-vos...
Madrinha, sei que agora és uma estrela a brilhar no céu.  Toma conta do Menim. 
Amar-te foi fácil, esquecer-te impossível. 

Bárbara de Sotto e Freire