quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Os desafios de uma mulher de trinta

Chegamos aos dezasseis e queremos ter dezoito. Comigo foi assim. Fiz dezoito e já tinha a carta. Esfreguei-a na cara de quem vinha ter comigo: tenho de dezoito, e já tenho carta, sou maior. Mas de facto, tudo isso em nada mudou a minha vida! Que rica falta de maturidade! Depois vieram os vinte e achei um piadão, até porque me davam sempre menos idade que a que eu realmente tinha. Os vinte foram uma boa fase, recheados de amigos, de duras decisões e com elas alguma maturidade, de trabalho, de recompensa, de introspeção… até que chegaram os trinta.
Pensei que aos trinta ia ter uma festa surpresa. Nunca tive uma verdadeira festa de anos, e achava que tal data merecia o encanto de uma festa surpresa. Qual inocência a minha, nada disso aconteceu! Cada um focado nas suas coisas, foi então que percebi que aos trinta já não se é uma criança, já não se festejam os anos com a leveza dos vintes, e que se cada um nasce por si, cada um morre por si.
Nada de pieguices, sou adulta e responsável, tenho a minha casa e pago as minhas contas. Sou dona do meu próprio destino.
Penso que aos trinta pensamos de uma forma mais clara, mais sensata, mais determinada e focada, que aos vinte. Foi quando passei a viver sozinha que tive noção de gerir a minha vida, e senti-me responsável por ela.
Esse é um dos desafios dos trinta, passar a viver de forma autónoma e independente, gerir a nossa vida, pensar pela nossa cabeça e ter os pés muito bem assentes na terra.
Aos trinta olhamos para o lado e vemos as nossas amigas a casarem e a terem filhos e cabe-nos também a nós tomar essa decisão. Eu estou bem assim, solteira, sozinha, incondicionalmente tia. Não sou solteirona, nem sequer penso nisso. Não penso num futuro longínquo de uma velhice em que não tenho ninguém para partilhar os meus dias. Sinto-me bem assim. Não procuro desenfreadamente um par, porque sei que se tiver de aparecer ele aparece. Afinal, o amor acontece.
Neste momento estou focada no meu trabalho e na minha carreira. Tenho alguns projetos que ainda não consegui concretizar e esses sim são a minha prioridade. Não quero ser mais uma colaboradora… quero ser aquela que marca pela diferença (positiva, claro).
E aos trinta há o desafio da lei da gravidade, das primeiras rugas, da necessidade de passarmos mais tempo no ginásio… Quando vi o meu primeiro cabelo branco quase que parti o espelho de tanto o esfregar… o espelho é que estava sujo… eu não podia ter cabelos brancos, bolas. Depois, foram as rugas de expressão. E a celulite? Desaparece malvada! E agora aos “intas” já começam as dores de costas… E eu pergunto-me se será da idade.
Sinceramente, sei que são muitos os desafios de uma mulher de trinta anos. Perante a sociedade, ter uma carreira de sucesso e ter uma família a crescer. Perante a família a pressão de dar um sobrinho ou um neto e ter uma vida estável. Perante os amigos de outrora ser um par, um semelhante, casar, constituir família, comprar casa, ter uma carreira de sucesso.
Se eu pensasse assim estaria a dar em doida. Sei que a sociedade pede, quase exige, tudo isso, e os outros estão lá também para cobrar o convencionalmente imposto. Mas de facto, até hoje, ainda não consegui encontrar o amor, e se não o encontrar não fico particularmente triste. Há coisas que me preenchem mais que uma companhia física. Quanto à carreira, confesso que estou muito aquém do que eu tinha previsto para mim mesma. Mas tento reunir todos os esforços para saber qual o caminho a seguir. [Engraçado, como aos trinta ainda não temos uma rota definida…]. Uma coisa sei, aos trinta ganha-se maturidade, serenidade e alguma clarividência.
Os desafios de uma mulher de trinta são muitos, mas nada melhor que gostarmos de nós, mimarmos o nosso ego e vivermos de forma autêntica e genuína, dedicando-nos aos outros com a nossa sabedoria e amor.
Bárbara de Sotto e Freire

Autonomia


Autonomia é ser-se adulto e ter consciência de tal; é tomar decisões por si, sem pedir opiniões a outros, de forma continuada e repetitiva; é ser piloto da própria vida. Ter autonomia implica ter responsabilidade, e ter consciência de que as nossas acções têm consequências, e portanto, temos que arcar com elas.
Ser autónomo é ser livre e ter asas para voar. E independentemente de se saber se se sabe ou não voar, deixar-se ir na leveza da corrente. O imprevisível às vezes sabe tão, mas tão bem! E aproveitar o voo para saborear o frio cortante no rosto, para ouvir o chilrear dos pássaros, para fazer uma inclinação para a direita, que não estava nos planos... E quando se aterra vem a sensação da prova superada, do dever cumprido, da criança que ficou lá para trás e do adulto que agora se começa a olhar ao espelho e a reconhecer enquanto tal. E quando se aterra na terra queimada, sentem-se as pernas bambas do nervosismo da novidade pelo mundo desconhecido, sente-se o sorriso estampado no rosto por mais uma etapa vencida, e a vontade brutal de fazer novos voos.
Autonomia é sermos fiéis a nós mesmos, autênticos e genuínos,  amarmos quem nos ama, sermos livres e tomarmos a nossas decisões, sem que para isso seja necessário deixar nada nem ninguém para trás.  Voar é só mais um passo no nosso processo evolutivo e de crescimento enquanto seres humanos...

Eu quero voar!

Bárbara de Sotto e Freire