«Passei dias à tua procura. Não posso dizer que tenha sido à tua espera, porque não se espera por ti, procura-se por ti - o que é um paradoxo para matar o tempo, mais dinâmico, mais corpóreo, mais aceso também.
E, de tanto procurar na ausência, aprendi que esta é uma história extenuante. Uma história em que passamos todos muito tempo à procura. Talvez isso nos fortifique, e nos faça encontrar partes dispersas de nós, o que já não é mau. Cheguei a um ponto de desdobramento em que não estou contigo, mas sou contigo, e talvez tenha agora entendido que estar é pouca coisa. Ser é infinitamente mais. Eu sou em ti.
E de tanto procurar, de tanto ensaiar o que te diria quando por fim te sentisse chegar, passei a viver de uma outra forma. Contigo cá dentro. Minto, com a tua personagem cá dentro. E o que é a mentira senão a verdade de pernas para o ar? Garanto, agora garanto eu, que, nesta clivagem poderosa, vive-se com alma, vive-se com asas, de maneira a tocar a tua ilusão de azul-perfeito sempre que me apetecer.
Ainda não percebi porque será que tudo aquilo em que eu toco desaparece de repente.»
Adopta-me
Maria João Lopo de Carvalho
Bárbara de Sotto e Freire
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