Chegamos
aos dezasseis e queremos ter dezoito. Comigo foi assim. Fiz dezoito e
já tinha a carta. Esfreguei-a na cara de quem vinha ter comigo:
tenho de dezoito, e já tenho carta, sou maior. Mas de facto, tudo
isso em nada mudou a minha vida! Que rica falta de maturidade! Depois
vieram os vinte e achei um piadão, até porque me davam sempre menos
idade que a que eu realmente tinha. Os vinte foram uma boa fase,
recheados de amigos, de duras decisões e com elas alguma maturidade,
de trabalho, de recompensa, de introspeção… até que chegaram os
trinta.
Pensei
que aos trinta ia ter uma festa surpresa. Nunca tive uma verdadeira
festa de anos, e achava que tal data merecia o encanto de uma festa
surpresa. Qual inocência a minha, nada disso aconteceu! Cada um
focado nas suas coisas, foi então que percebi que aos trinta já não
se é uma criança, já não se festejam os anos com a leveza dos
vintes, e que se cada um nasce por si, cada um morre por si.
Nada
de pieguices, sou adulta e responsável, tenho a minha casa e pago as
minhas contas. Sou dona do meu próprio destino.
Penso
que aos trinta pensamos de uma forma mais clara, mais sensata, mais
determinada e focada, que aos vinte. Foi quando passei a viver
sozinha que tive noção de gerir a minha vida, e senti-me
responsável por ela.
Esse
é um dos desafios dos trinta, passar a viver de forma autónoma e
independente, gerir a nossa vida, pensar pela nossa cabeça e ter os
pés muito bem assentes na terra.
Aos
trinta olhamos para o lado e vemos as nossas amigas a casarem e a
terem filhos e cabe-nos também a nós tomar essa decisão. Eu estou
bem assim, solteira, sozinha, incondicionalmente tia. Não sou
solteirona, nem sequer penso nisso. Não penso num futuro longínquo
de uma velhice em que não tenho ninguém para partilhar os meus
dias. Sinto-me bem assim. Não procuro desenfreadamente um par,
porque sei que se tiver de aparecer ele aparece. Afinal, o amor
acontece.
Neste
momento estou focada no meu trabalho e na minha carreira. Tenho
alguns projetos que ainda não consegui concretizar e esses sim são
a minha prioridade. Não quero ser mais uma colaboradora… quero ser
aquela que marca pela diferença (positiva, claro).
E
aos trinta há o desafio da lei da gravidade, das primeiras rugas, da
necessidade de passarmos mais tempo no ginásio… Quando vi o meu
primeiro cabelo branco quase que parti o espelho de tanto o esfregar…
o espelho é que estava sujo… eu não podia ter cabelos brancos,
bolas. Depois, foram as rugas de expressão. E a celulite? Desaparece
malvada! E agora aos “intas” já começam as dores de costas… E
eu pergunto-me se será da idade.
Sinceramente,
sei que são muitos os desafios de uma mulher de trinta anos. Perante
a sociedade, ter uma carreira de sucesso e ter uma família a
crescer. Perante a família a pressão de dar um sobrinho ou um neto
e ter uma vida estável. Perante os amigos de outrora ser um par, um
semelhante, casar, constituir família, comprar casa, ter uma
carreira de sucesso.
Se
eu pensasse assim estaria a dar em doida. Sei que a sociedade pede,
quase exige, tudo isso, e os outros estão lá também para cobrar o
convencionalmente imposto. Mas de facto, até hoje, ainda não
consegui encontrar o amor, e se não o encontrar não fico
particularmente triste. Há coisas que me preenchem mais que uma
companhia física. Quanto à carreira, confesso que estou muito aquém
do que eu tinha previsto para mim mesma. Mas tento reunir todos os
esforços para saber qual o caminho a seguir. [Engraçado, como aos
trinta ainda não temos uma rota definida…]. Uma coisa sei, aos
trinta ganha-se maturidade, serenidade e alguma clarividência.
Os
desafios de uma mulher de trinta são muitos, mas nada melhor que
gostarmos de nós, mimarmos o nosso ego e vivermos de forma autêntica
e genuína, dedicando-nos aos outros com a nossa sabedoria e amor.
Bárbara de Sotto e Freire
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