Fico cada vez mais chateada e
revoltada com a politiquice das empresas que dizem ser inclusivas para as
pessoas com deficiência, pretendendo, até, ser um exemplo a esse nível, contratando
um jovem com ligeira incapacidade física, e ao final de 4 meses dizerem-lhe que
“afinal já não és preciso aqui”.
Eu mesma fui vítima do estigma
social da deficiência, e ao final de 12 anos de empresa fui convidada a sair.
Porquê? Porque enquanto eu dei tudo, enquanto eu superei todas as expectativas,
enquanto eu era a bailarina principal, todos diziam “muito bem”, “és
excelente”. Contudo, depois de uma baixa psiquiátrica de três anos, em que
descobriram que eu tinha o Transtorno de Personalidade Borderline, tudo mudou.
A medicação tornou-me mais lenta, muita coisa tinha mudado, quer a nível de
produtos, quer a nível de software. Eu não arriscava. Não retinha os conteúdos
à primeira, pelo que era considerada a chata do serviço. Ninguém percebia o que
se passava comigo. O que é facto é que ainda andei assim algum tempo, mas
voltei a meter baixa. De regresso ao trabalho, os tremores, o facto de me
babar, o medo de errar no atendimento ao público, levaram a que me propusessem
a rescisão do contrato. Puseram o médico do trabalho como intermediário. Vejam
lá! Um médico que me dizia que os Recursos Humanos não estavam a gostar do meu
desempenho laboral. Obrigaram-me a levar relatórios do médico de família e do
psiquiatra a atestar em como eu estava apta para trabalhar. Assim o fiz. Mas
com isto o medo crescia, e força para lutar numa empresa tão grande, estava a
esvair-se. Por vezes via o cliente a entrar e tinha medo. Ainda não tinha
abordado o cliente e já tinha suores, tremores, enfim… Os colegas não ajudaram,
antes pelo contrário. Eu não estava ao nível deles. Eles davam 120% eu só dava
100%. Ninguém me estendeu a mão e me disse, algo do género: “eu estou aqui”, ou
“vais para a reposição, porque é mais adequado para ti”, ou “põe uma baixa e
recompõem-te, volta quando te sentires mais forte”. Nada. Só ficaram felizes
quando assinei a rescisão do contrato de trabalho.
Numa empresa que se quer tornar
exemplo de inclusão à deficiência.
Hoje, passados 2 meses e 27 dias
lamento. Lamento não ter lutado pelo meu posto de trabalho. Ir ao advogado,
levar relatórios médicos, whatever… Hoje lamento. Pelo colega que foi
despedido, não porque já não era preciso, mas porque tinha uma deficiência.
Aos senhores doutores, CEO’s,
quem quer que sejam, se querem ser o exemplo não vão por este caminho de
mentira e inglória, porque, despedir pessoas com deficiência não é o caminho.
Pedras no caminho? Guardo
todas, um dia vou construir um castelo… (Fernando Pessoa)
Bárbara de Sotto e
Freire