Hoje o seu coração estava apertado, pequeno, amassado por pensamentos e perguntas para os quais ela não encontrava resposta.
Catarina não sabia se alguma vez encontraria resposta para as suas dúvidas e receios; jamais saberia se alguém lhe daria essas respostas. Achava e, no fundo, sabia, que apenas o tempo, a faria perceber o que é o amor.
Catarina queria amá-lo por completo, na íntegra. Queria entregar-lhe o coração, a alma, o corpo. Queria que ele se entregasse a ela. Catarina não o iria amar pela metade. Se amava faria-o por completo, mas tinha pedido a Afonso tempo.
Tempo para se conhecerem, tempo para se respeitarem, tempo para que ela se perdoasse a si mesma. Catarina achava que com o passar dos dias ele ficaria a conhecer o seu verdadeiro eu: um eu que tanto gosta de aventura, como de mergulhar na sua própria solidão; um eu que gosta de música e de silêncio; um eu que gosta de falar, mas que quer momentos em que a partilha do silêncio seja também ela mágica; um eu que é acessível e inacessível; um eu que sorri e que chora; um eu que ainda tem muito que aprender enquanto pessoa, que quer deixar o passado no passado, que quer aprender a gostar de si mesma...
Hoje Catarina perguntava-se se esse tempo lhe seria concedido. Chorava dentro de si mesma, pois ao mesmo tempo que queria estar com Afonso, tinha medo que ele a deixasse. Tinha medo que Afonso procurasse no brilho dos olhos de outra mulher aquilo que ela não lhe podia dar agora, neste momento, já.
Chorava com medo de viver a vida. Tinha medo de ser feliz.
Catarina sempre fora muito ligada à sua familia e queria manter o tempo que tinha para si, o tempo que dedicava à mãe e à sobrinhada, acrescentando tempo ao tempo e vida à vida com Afonso.
Debatera-se hoje durante todo o dia com isto. E não encontrara resposta.
Perguntava-se o que via ele nela.
Ela via nele aquilo que sempre desejara. A sua lista de "requisitos do Homem ideal" estava preenchida, o seu coração estava quente, e batia forte quando pensava nele. Eram estes os ingredientes do amor.
Contudo, fazer esta receita era muito mais complicado do que sempre imaginara.
Sabia que os pratos da avó eram fortes, os da mãe eram mais suaves. Preferia o assado da avó, a canja da mãe, e os molhos preparados pelo irmão. Cada um tem uma forma secreta e misteriosa de fazer uma receita universal. Para ela esta receita não era só nova, como exigente.
Mas ela também gostava de desafios...
Hoje, Catarina precisava dele. Sabia que o amor era imprevisivel, que havia dias bons, e dias como os de hoje, em que todo o tempo não chegava para ter tempo.
Precisaria durante muito tempo da paciência de Afonso. Da forma carionhosa com que ele diria "amo-te", "quero-te". "Tu é única, és a minha princesa". "Para sempre".
E assim Catarina adormeceu no meio das suas lágrimas de incerteza, certa de que o Universo lhe estava a dizer "sê feliz".
Bárbara de Sotto e Freire
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