Na minha
terra os dias de fiéis defuntos de todos os Santos são comemorados
como manda a tradição. As pessoas vão à missa, seguem a procissão
e depois param nas campas das suas famílias. Dias antes, lavaram as
campas até à exaustão, engalanoaram-nas com as mais bonitas flores
e arranjos, até de floristas, para que nos dias sagrados sejam as
mais vistosas e mais bem faladas.
Nestes dias
custa-me muito assistir a este tipo de cerimónias. Normalmente não
marco a minha presença, embora interiormente sinta um profundo pesar
pela família e amigos que já partiram e que saudosamente habitam no
meu coração.
Os dias 1 e
2 de Novembro não marcam o pesar dos mortos, a saudade dos que já
partiram mas que continuam a habitar bem perto do nosso coração,
para a maioria das pessoas. Infelizmente, são dias em que se sai de
casa de fatiota nova, para se ver e ser visto. As mulheres de cabelo
arranjado, pintadas como se fossem para uma festa, envergando trajes
novos e nobres; os homens de fato novo, muto bem aperaltados, até
parece que vão para um casamento. A competição das flores nas
campas, qual concurso que desconheço. As pessoas a trocarem
comentários sobre como vai vestida fulana e cicrana.
Não
desdenho as roupas novas. Antes pelo contrário. Deveria ser hábito
de culto irmos bem arranjados, na nossa simplicidade. Não desdenho
as flores, mas pergunto-me se gastar rios de dinheiro em arranjos em
floristas vão levar os defuntos ao céu. Aquilo que me questiono é
o porquê de transformar um dia Santo e tão pesaroso num dia de
ostentação e luxo, onde o sentir não está presente.
Vou fazer os
meus fiéis esta semana. Passo pelo cemitério, acendo umas quantas
velas numas quantas campas, converso com quem lá tenho, choro à
vontade, sem ter ninguém a olhar para mim e a pensar “coitada,
esta até fala com os mortos”. Sou simples. Tenho saudades não
mensuráveis dos meus avós, que partiram recentemente. Tenho gente
que amo arrumada num pedaço de terra, e acredito, num bonito pedaço
de céu.
Só morremos
quando somos esquecidos do coração daqueles que nos amam…
Bárbara de Sotto e Freire
Sem comentários:
Enviar um comentário