sábado, 16 de junho de 2012

Cari amici...

Cari amici,

Já tinha saudades da viagem solitária que a escrita me proporciona. Saudades dos momentos de reflexão e desabafo. Ao longo destes meses em que não escrevi senti falta da caneta e do toque do papel. Senti a falta do som das teclas que outrora os meus dedos  dedilhavam tão ou mais rápido que o meu pensamento. Durante esta ausência escrevi textos no meu pensamento mas não os conseguia transpor para um plano visível e palpável e isso deixou-me frustrada muitas vezes. Outras vezes quase me obriguei a escrever, mas acabei por apagar as palavras que saíram dos meus dedos, que saíam do lado mais racional desta minha cabeça complicada. Outras vezes fiquei a olhar para o ecrã branco e pensei "o que se passa comigo?". Vezes havia em que queria escrever, mas por razões profissionais, ou por outras obrigações, não o podia fazer. Mas ao longo da última semana, foi como se a necessidade de escrever fosse crescendo e as ideias fossem brotando, e enfim, cá estou eu, a escrever, furiosamente, a teclar, cheia de entusiasmo, e sorrindo, contra um ecrã que se enche, repleto de palavras, de sentimentos e emoções, de histórias.
In definitiva...
Ao longo destes meses de ausência a vida não foi particularmente afável comigo. Aprendi que as pessoas são inconstantes, encontrei mais pessoas escorregadias do que aquelas que esperei encontrar ao longo de toda a minha existência, aprendi que a vida não é preto no branco (acho que ainda não aprendi, mas é uma constatação cada vez mais frequente), e que há pessoas que merecem apenas um cartão de saída da minha vida sem qualquer V de volta. Ao longo destes meses despedi-me de muitas pessoas. Sem mais nem menos, as pessoas vão. Morrem, vão quando menos se espera, mudam de emprego, mudam de local de residência, mudam de local de trabalho. As pessoas que consideramos serem fundamentais para as nossas vidas terem algum equilíbrio vão. Aquelas pessoas a quem nós damos tudo para ficarem, a quem nós alimentamos a presença, a quem nunca daríamos razões para nos darem um bilhete de saída, ou a quem nunca daríamos um bilhete apenas de ida. A vida é controversa e amarga.
Non capisco!
Neste espaço de tempo foi Outono, foi Inverno, é Primavera, e quase Verão.
Contudo o tempo permanece incerto.
Dediquei-me a aprender as plantas, a ciência do seu uso. Fiz sacrifícios imensos para me tornar uma melhor profissional. Sacrifiquei horas dos meus dias e dias dos meus anos para ter as minhas tarefas laborais prontas a tempo e horas, com o mínimo de lapsos possíveis, com o maior brio e dedicação.
Até agora sinto uma coisa estranha... Trabalhamos para ser reconhecidos?
Naturalmente.
Ao longo destes meses, fiquei mais velha. Tenho brancas. Tenho rugas, olho para o espelho e vejo-me a envelhecer. Só me pergunto e me questiono acerca do que conquistei até hoje, até agora.
Pergunto-me se conquistei corações, se conquistei sorrisos, se serei importante para alguém ou para muita gente, se deixarei saudades. Pergunto-me até que ponto fui importante para o mundo.
Apaixonei-me e desapaixonei-me. Fiquei com raiva e depois fiz as pazes comigo mesma. Hoje acho que nem sequer me apaixonei. Raios partam o coração e as leis da atração ou lá o que isso é.

E foi assim, um devaneio de emoções, um afogar no trabalho para não ter que pensar no resto. Um resto que por vezes não há. Uma falha emocional grave. Foi assim. Desviar o emocional para o racional, para esquecer o que falta.
Que faltas lá tu no almoço de Domingo, que faltas lá tu ao telefone, que faltas lá tu com o teu sorriso, que faltas lá tu, qual pit bull, que faltam lá todos vocês.
Faltam lá todos vocês. Por isso estou imersa em mim.

Mi manca la tua presenza.
Voglio Dom.

Bárbara de Sotto e Freire

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