domingo, 15 de março de 2009

Esta é tua!!!

"There are two ways to live: you can live as if nothing is a miracle; you can live as if everything is a miracle."

Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 8 de março de 2009

É a vida (o que se há-de fazer?)

«Há-de ser mais claro
tudo um dia, vais ver
tudo nos lugares
que tu separares
entre
o tanto que há pra viver
Por agora é tudo
confusão, tempestade
grita no mar alto
dança no asfalto
cruza
os dias da tua idade
É a vida
o que é que se há-de fazer?
é a vida
o que é que se há-de fazer
Viver!
A noite agora acaba
a lua segue p'ro sol
faz uma directa
corre que nem seta
rumoao branco do teu lençol
Olha-te ao espelho
triste-alegre estarás
na boca um sorriso
nos olhos granizo
do amor
hoje deixado p'ra trás
É a vida
o que é que se há-de fazer?
Viver!
Mais tarde verás
o que hás-de ser nesta vida
doutor de aventuras
médico de curas
actor
duma comédia sentida
Sejas o que sejas
hás-de ser invencível
escolhe bem amores
enche-te de cores
pinta
tudo o que em ti é possível
É a vida
o que é que se há-de fazer?
Viver
Sérgio Godinho, in "Domingo no mundo"
Bárbara de Sotto e Freire

O primeiro dia do resto da tua vida

«A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se no silêncio e no borborinho
Embebe-se as certezas num copo de vinho
vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do esto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que leva a peito
bebe-se come-se e alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vem cansaços e o corpo fraqueja
molha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida»
Sérgio Godinho

Bárbara de Sotto e Freire

A tua (ou minha) pequena dor



«A tua pequena dor
Quase nem sequer te dói
É só um ligeiro ardor
Que não mata mas que mói
É uma dor pequenina
Quase como se não fosse
E como uma tangerina
Tem um sumo agridoce
De onde vem essa dor
Se a causa não se vê
Se não é por desamor
Então é uma dor de quê?
Não exponhas essa dor
É preciosa é só tua
Não a mostres tem pudor
É o lado oculto da lua
Não é vicio nem costume
Deve ser inquietação
Não a nada que a arrume
Dentro do teu coração
Talvez seja a dor de ser
Só o sente que a tem
Ou será a dor de ver
É dor demais
Certo é ser a dor de quem
Não se dá por satisfeito
Não a mates guarda bem
Guardada no fundo do peito


Cabeças no ar


Bárbara de Sotto e Freire

A queda de um anjo


«Testemunhos da verdade
Tanto vão de mão em mão
Que se perdem com a idade
Porque ninguém nasce ensinado
O que aprendi já está errado
Não acredito no meu passado
É a queda de um anjo
Em cima de um homem
Que ao ganhar idade
Perde a razão
Ontem liam evangelhos
Hoje é lei a constituição
Mas que ninguém me dê conselhos
Nunca gostei que a maioria
Organizasse o meu dia a dia
Não acredito em democracia
É a queda de um anjo
Em cima de um homem
Que ao ganhar idade
Perde a razão.

A todos os anjos

de todos os sexos

Agarrem as asas

ao cair do chão
Delfins

Bárbara de Sotto e Freire

segunda-feira, 2 de março de 2009

Tudo o que sou não é mais que abismo



«Tudo o que sou não é mais do que abismo
Em que uma vaga luz
Com que sei que sou eu, e nisto cismo,
Obscura me conduz.

Um intervalo entre não-ser e ser
Feito de eu ter lugar
Como o pó, que se vê o vento erguer,
Vive de ele o mostrar.»

Fernando Pessoa


Bárbara de Sotto e Freire

A ausência

«Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida.»
Bob Marley
Bárbara de Sotto e Freire