quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Infelizmente é assim, mas não me conformo


Aqui vai.
Talvez sem muitos rodeios, tiro certeiro, dedo na ferida.

Vivo em Argoncilhe não vai há muitos anos. Quatro, mais coisa menos coisa.
Árgoncilhe, ou Vila de Árgoncilhe?! Pois é, fiquei a saber há cerca de quinze dias que existem em Portugal dois locais distintos, nenhum deles Argoncilhe, mas Árgoncilhe, e Vila de Árgoncilhe, nenhum deles uma freguesia a constar no mapa dos senhores (ou do senhor que me atendeu) da Assistência em Viagem.
Adiante. Em Argoncilhe, Santa Maria da Feira, Aveiro. Aí mesmo.
Desde que aqui vivo tenho-me deparado com particularidades no mínimo caricatas, que nos últimos meses, me têm levado a uma certa irritabilidade, vá.
Começo pelos contentores do lixo. Quando para cá vim morar não haviam contentores do lixo na minha rua. Qual o meu espanto, num concelho evoluído, não existirem contentores do lixo. Eu já não digo ecopontos (existe um na rua principal - que é muito extensa). Falo de contentores do lixo! Em 2009, há alguns meses atrás, instalaram na minha rua alguns contentores do lixo. Eh, que felicidade, viva a evolução e a limpeza!
Gostaria ainda de falar de saneamento básico, da rede de esgotos, mas como gostaria que a leitura se tornasse aprazível, não vou deitar a escrita para esse campo.
Ou talvez dos cartazes e da publicidade que na altura das eleições ficam tempos infinitos pendurados na rotunda do Picoto - bem perto de minha casa.
Como estou a falar dessa rotunda, aproveito para falar de estradas. É que essa mesma rotunda anda em obras. Até aí, tudo bem. Mas as obras deixaram a rotunda completamente esburacada durante meses. O meu carro avariou na famosa rotunda. O meu e muitos outros. E só depois de meses de buracos e obras, em que na rotunda se tinha de conduzir em primeira, é que se lembraram de a asfaltar. Vá lá! Mesmo assim aquela sinalização é um espectáculo! Só por quem lá passa!
E quem passa de carro na Rua de S. Domingos - e transversais - passa por trabalhos! São buracos inesperados, remendos mal feitos, estradas provisoriamente cortadas, desvios feitos à pressão!
Ah, e no cruzamento da nacional para essa mesma rua, a de S. Domingos, há uns semáforos, que de quando em vez (frequentemente) avariam. E só voltam a funcionar passado uma semana, ou então... quando há um acidente.
E a última das últimas novidades! Numa das transversais da Rua S.Domingos, que é uma rua sem saída, e onde há um bloco de prédios, o condomínio pintou os lugares de estacionamento. Ideia de aplauso! Qual o meu espanto quando ontem vejo que nessa mesma estrada a Protecção Civil pôs o sinal de estacionamento proibido. É claro que se fosse um condomínio chique, nada disto acontecia. Mas enfim. Chegam aqui, espetam o sinal no meio do jardim e vão-se embora. Não deixam explicação na caixa de correio, nada. Nicles. Até pensam que vou estacionar o meu carro no meu quarto, que por acaso fica no primeiro andar de um bloco de prédios, dessa rua sem saída. Ora bolas! Mas o mais caricato é que nesta rua sem saída estão dois mamarrachos, vulgo carros, a cair de podres, desde que para cá vim morar, isto é, há já uns anitos. Esses mesmos veículos, em visível estado de degradação, ocupam dois lugares de estacionamento (pelos vistos, agora, proibido!), mas de cá ninguém os tira, nem a polícia, nem a protecção civil, nem a junta, nem a câmara, nem o diabo a sete. Ora bolas, bolas!
Estou farta destas políticas sem jeito nenhum, e destas regras que são feitas para serem obrigatoriamente quebradas.
E quando me perguntarem onde vivo, não vou dizer em Argoncilhe. Porque Argoncilhe não consta do mapa. Vivo entre algures e nenhures.
Vou emigrar para Jerusalém.
E talvez, nem aí.
Tenho dito.
Bárbara de Sotto e Freire

Desabafos - Fevereiro I

Estamos em Fevereiro e ainda não me deste a minha prenda de Natal.
Não sei o que pense, mas sei o que sinto.
Em estado de sítio. A precisar de mudar.
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 24 de janeiro de 2010

Os sonhos que deixamos de viver



O meu blog tem sido deitado ao abandono. É verdade que não são raras as vezes que por cá passo para escrever. Mas são raras as vezes a que me disponho a tal.

Falta-me tempo, energia, e sofro de uma certa falta de paz que não mo permite fazer. Escrever sempre foi para mim um processo de construção interior, e de uma certa ordenação mental. É como se conseguisse por tudo no sítio certo, encaixado onde sempre deveria ter estado. E afinal o que me tem faltado não é tempo, é organização. Ás vezes sinto-me tão cansada, mas simultaneamente tão irrequieta que não consigo parar para escrever. Para pensar. Sinto que a vida se esvai. Sinto que tempo, que afinal é apenas o que fazemos dele, passa cada vez mais de uma forma ainda mais rápida, mais louca, quiça alucinante. Sinto que me esqueci de mim mesma no meio do caos.

O ecrã está branco e fico com receio de escolher as palavras erradas.

Sabes que durante o ano de 2009 li mais de vinte livros?! E sabes qual é o meu cantor favorito? Sabes qual é a estação do ano que mais gosto? Reconheces a cor pela qual me perco? Ou então a peça de vestuário pela qual sou capaz de perder a cabeça (ou o dinheiro)? Sabes porque gosto de ti? Sabes o que mais me irrita nas pessoas? O meu maior defeito? A minha maior qualidade?


Talvez.

Ás vezes tenho a certeza que o mundo para mim é um MUNDO todo onde cabe tudo e não cabe nada, onde cabem experiências e afectos, onde cabem amores e desamores, onde as raivas e os ódios se dissolvem, onde o mar e o sol se tocam cada dia, todos os dias.

Primeiro era o verbo e o verbo fez-se carne. Era assim que o professor de MIA (Métodos Instrumentais de Análise) começava as aulas. Todos os dias.


Mas tantas outras vezes acho que vivo num mundinho pequeno, mesquinho, medonho só de pensar que existe. Limitado. Picuinhas. Um mundo limitado ao meu ser, que se colide com ele próprio.

Tenho pensado, e cada vez mais tenho reflectido nisso, que realmente não é esta a vida que escolhi. Não são estes os sonhos que sonhei para mim. Não foram estas as pessoas que eu decidi amar. Amo porque sim. Gosto porque a alternativa era esta ou nenhuma outra.

É difícil de explicar-te assim, por palavras, quando as palavras estão gastas.

Eu quero viver o meu sonho, eu quero voar o meu destino, com as minhas asas, e traçar a minha liberdade.

Eu quero batalhar a minha luta.

E o meu sonho implica esforço, coragem, audácia. Implica que tu estejas ao meu lado. Que não vaciles, e que não me deixes desistir. Implica que saibas quais os livros que li, ou a música que oiço no carro ao berros, ou que adoro carteiras e brincos, que conheças o meu perfume. Implica que haja alguém que acredite em mim.

O meu sonho, também é o teu sonho.

Cada manhã um desafio.

Sabes quando fazemos tudo por alguém e esse tudo não chega? Ou quando se esquecem da nossa existência, e passamos a sentir-mo-nos invisíveis?

É uma sensação horrível. De que não existimos, de que não estamos ali, ou até mesmo de que não somos suficientemente capazes de ser pessoa.


Não sei.

Estou confusa. Ando chateada. Irritável. Irascível.

Se não procurarmos o céu, nunca chegaremos ás estrelas.

Pedro Abrunhosa/ Jorge Palma/ Madredeus/... .Outono.Preto. Calças de ganga. Porque és genuína. Hipocrisia. Teimosia. Ter um pouco de ti.

Bárbara de Sotto e Freire



quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

À Beleza

«Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim.
És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.»
Miguel Torga, in 'Odes'
Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

...

«A vida é o que acontece enquanto você está ocupado com outros projectos.»
John Lennon
Bárbara de Sotto e Freire

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A tua ausência

Este natal vai ser mais triste. Vai ser sem ti. Não mais vou ouvir a tua voz, não mais vou ouvir que conseguis-te ultrapassar esta ou aquela batalha. Sempre foste lutador, desde que me conheço. Lembro-me de ires lá para casa, e estarmos todos juntos, eu, tu, o meu irmão e a tua irmã. Grande tarde, essa que recordo hoje com saudade.
Não sei se sou demasiado simplista, mas acho que a nossa existência se resume a duas questões: o que fizemos durante a vida, e como se recordarão as pessoas de nós após a nossa morte.
Tu bem sabes que conquistas-te as pessoas. Bem sabes que as tuas limitações fisicas te elevaram a um patamar bem mais alto que nós, na nossa limitada e mesquinha perfeição, nos permitem fazer. Lamento e choro a tua ausência. Hoje, este natal. Sempre. Como se a tua ausência tivesse tocado num ponto muito sensível de mim, e me tivesse feito pensar que afinal não tenho dado o meu melhor, não tenho amado no meu todo.
Este natal vai ser mais triste também por ti. Porque tiveste um acidente, e estás deprimido, numa cadeira de rodas, e eu não sei que te dizer. Chego à tua beira, mas não junto de ti. Queria abraçar-te e dizer que te adoro e que és uma pessoa espectular e que sem ti eu não sou, mas não consigo. Estás rezingão, e eu rezingona, perdida num mutismo que é meu, e que só eu conheço, numa zanga que é só minha, numa luta que travo com Deus, a perguntar-lhe porque é que não sou eu que estou no teu lugar. Não é justo.
Este natal vai ser mais triste porque eu te dou um pouco da minha alma, e tu magoas-me a alma inteira. E eu nem assim aprendo. E viras-me as costas, e surges do nada, novamente, pronto para mais uma investida, e eu vou outra vez. Numa amizade em que dar e receber não são os mesmos pratos da balança.
Este natal vai ser mais triste porque tu estás esquecido, e quase não me conheces. Tu. Eu que era a menina dos teus olhos. E agora, quase não sabes quem eu sou, ou o que faço.
Este natal vai ser mais triste, porque penso em tudo o que fiz e não o faria hoje. Em todas as escolhas que faria de uma forma diferente, oposta, contrária. Nas pessoas que teria amado mais, nas pessoas que não teria amado. Penso sobretudo nas coisas que não fiz, e no tempo que começa a passar demasiado depressa.
A vida teima em ensinar aquilo que não queremos aprender, daí que tenha a sensação que se repita em ciclos. Hoje choro a tua ausência, as vossas auências, a tua e a tua também.
Este natal vais ser mais triste, porque hoje, esta manhã fria, e por isso real, sinto que não sou quem me sonhei. Sinto que esta não é a vida que risquei para mim. E pergunto-me: o que fiz durante a minha vida?, como se recordarão de mim as pessoas após a minha morte?.
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 15 de novembro de 2009

...

«Ser adulto é ser só.»
Jean Rostand
Bárbara de Sotto e Freire