Bárbara de Sotto e Freire
domingo, 20 de setembro de 2009
Dos sonhos
«Não pondero, sonho. Não me sinto inspirado, deliro.»
Fernando Pessoa
Bárbara de Sotto e Freire
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quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Poema do silêncio
«Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.
Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.
Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!
Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...
O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.
Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!
Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.
Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!
Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.
Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!
Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.
Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...
Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...
Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.»
José Régio
Bárbara de Sotto e Freire
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Dos livros - I
«Uma das coisas que muita gente faz no verão é ler livros.
Durante o ano, a maioria confessa que passa os olhos por jornais e revistas, que consulta obras de referência necessárias às respectivas profissões, que gasta os olhos a ler papelada de índole profissional, que vai à net como quem bebe copos de água e lê o que conhecidos, mesmo que virtuais, por ali vão deixando. Os livros, propriamente ditos, vão-se lendo devagarinho, duas páginas de cada vez, antes de adormecer ou nas "secas" programadas. Mesmo sendo verdade que "nunca" como hoje a actividade editorial teve melhores dias, o facto é que se publica por surtos "coisas" que parece que as pessoas podem querer ler. Umas vezes são uma espécie de ensaio sobre as mil e uma maneiras de ter sucesso, de manter-se eternamente saudável ou jovem, de conquistar o par ideal ou melhorar a auto-estima. Outras, a aposta vai para as receitas de poupança, de investimento, de ganhar dinheiro, de profissões de futuro ou de visões economicistas razoavelmente defendidas. Há os livros de viagem com mapas, dicas sobre hotéis, restaurantes, actividades a experimentar e sítios a conhecer. Há os livros de culinária - que está na moda -, bonitos e que fazem salivar só de olhar para as fotografias das iguarias que nunca se chegarão a confeccionar. Sempre atraente é o nicho de livros dedicados às mães que já o são ou em vias de o ser e aos problemas prováveis dos respectivos rebentos. Há, depois, os livros quase técnicos, que ensinam de forma prática e fácil aquilo que parece inacessível nos grandes e caros compêndios. Sobram as crónicas curtas de personagens minimamente conhecidos que permitem opiniões sobre assuntos banais e alguns mais etéreos, e uma espécie de literatura de moda que, actualmente, se fascina com temas góticos em versão light, em rigor com vampiros apaixonados. Dizem os especialistas que há autores que vendem apenas pelo próprio nome, mesmo sendo duvidoso que os seus livros façam mais do que enfeitar estantes.
No meio disto, causa alguma surpresa que os pouquíssimos autores que até têm histórias para contar, ainda por cima bem contadas, continuem a existir, a escrever, a vender alguns livros e a ter algum público atento que os lê todo o ano. Até no verão.»
Isabel Leal
In Caras, 29 Agosto 2009
Bárbara de Sotto e Freire
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
O futuro não é aliado
«Partira confuso mas regressara lúcido. Muito do que antes era obscuro tornara-se agora evidente. Mal deixara aquela baía junto ao lago, o desejo de voltar para casa possuíra-o. Compreendia a justeza da decisão de Tinder, e de Baboo. Henry era um homem taciturno, cheio de dúvidas e preocupações, mas era também leal. (...) Muito do que acontecia no mundo era obra do acaso. (...) A vida era um enxame de acidentes à espera entre a copa de uma árvore, pronto a descer sobre qualquer criatura que passasse, para a comer viva. Nadávamos num rio de acasos e coincidências. Agarrávamos os acidentes mais felizes - deixando que a corrente levasse os outros. Encontrávamos um homem bom, com quem um cão ficaria em segurança. Olhávamos em redor e descobríamos a coisa mais invulgar do mundo sentada ao lado, olhando para nós. Algumas coisas eram certas - as que já tinham acontecido - , mas ninguém adivinhava o futuro. (...) Mas para todos os outros, o futuro não era aliado. cada pessoa tinha apenas a sua vida como moeda de troca. (...) De uma maneira ou de outra, havia de gastar a sua vida.»
A história de Edgar Sawtelle
David Wroblewski
Bárbara de Sotto e Freire
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Ás vezes
Ás vezes choramos sem razão. Ás vezes choramos com uma dor de alma profunda, como se a nossa alma só conhecesse um lado.
Ás vezes os dias correm mal.
Ás vezes sentimo-nos perdidos, sozinhos, nostálgicos.
Não suportamos ver ninguém, muito menos a nossa imagem no espelho.
Ás vezes não nos apercebemos do quanto as pessoas nos ferem, nos magoam, nos decepcionam. Quando muito, não nos damos conta, do quanto nos podemos decepcionar a nós mesmos.
Ás vezes os dias passam rápido.
Ás vezes não tomamos as decisões certas, no tempo devido.
Não amamos na mesma medida.
Ás vezes amamos tanto, que ficamos vazios.
Ás vezes sentimos que a nossa vida é feita apenas de despedidas, sem ter sido possível, alguma vez, gravar nos olhos da alma, os olhos de quem vai.
Ás vezes não gozamos o momento, não sorrimos genuinamente.
Ás vezes queremos mimo.
Ás vezes nem a carapaça da indiferença nos permite resistir aos mais afiados aguilhões.
Ás vezes é mais fácil enfiar a cabeça na areia, porque temos medo do desconhecido, temos medo de falhar. Falhar com os nossos sonhos e promessas de outrora. Ás vezes somos a nossa própria desilusão.
Ás vezes tornámo-nos os melhores. Ou os piores.
Ás vezes achamos que a vida só nos coloca obstáculos.
Ás vezes não somos suficientemente inocentes para acreditar na vida, e somos levianamente perspicazes levados a acreditar que alguém, um dia, nos poderá entender.
Bárbara de Sotto e Freire
domingo, 9 de agosto de 2009
Em jeito de homenagem
"Façam o favor de ser felizes..."
Raul Solnado, actor genial, humorista brilhante que celebrizou esta frase
1929-2009
Bárbara de Sotto e Freire
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