quinta-feira, 27 de abril de 2023

A incapacidade das empresas contratarem pessoas com deficiência

 

Fico cada vez mais chateada e revoltada com a politiquice das empresas que dizem ser inclusivas para as pessoas com deficiência, pretendendo, até, ser um exemplo a esse nível, contratando um jovem com ligeira incapacidade física, e ao final de 4 meses dizerem-lhe que “afinal já não és preciso aqui”.

Eu mesma fui vítima do estigma social da deficiência, e ao final de 12 anos de empresa fui convidada a sair. Porquê? Porque enquanto eu dei tudo, enquanto eu superei todas as expectativas, enquanto eu era a bailarina principal, todos diziam “muito bem”, “és excelente”. Contudo, depois de uma baixa psiquiátrica de três anos, em que descobriram que eu tinha o Transtorno de Personalidade Borderline, tudo mudou. A medicação tornou-me mais lenta, muita coisa tinha mudado, quer a nível de produtos, quer a nível de software. Eu não arriscava. Não retinha os conteúdos à primeira, pelo que era considerada a chata do serviço. Ninguém percebia o que se passava comigo. O que é facto é que ainda andei assim algum tempo, mas voltei a meter baixa. De regresso ao trabalho, os tremores, o facto de me babar, o medo de errar no atendimento ao público, levaram a que me propusessem a rescisão do contrato. Puseram o médico do trabalho como intermediário. Vejam lá! Um médico que me dizia que os Recursos Humanos não estavam a gostar do meu desempenho laboral. Obrigaram-me a levar relatórios do médico de família e do psiquiatra a atestar em como eu estava apta para trabalhar. Assim o fiz. Mas com isto o medo crescia, e força para lutar numa empresa tão grande, estava a esvair-se. Por vezes via o cliente a entrar e tinha medo. Ainda não tinha abordado o cliente e já tinha suores, tremores, enfim… Os colegas não ajudaram, antes pelo contrário. Eu não estava ao nível deles. Eles davam 120% eu só dava 100%. Ninguém me estendeu a mão e me disse, algo do género: “eu estou aqui”, ou “vais para a reposição, porque é mais adequado para ti”, ou “põe uma baixa e recompõem-te, volta quando te sentires mais forte”. Nada. Só ficaram felizes quando assinei a rescisão do contrato de trabalho.

Numa empresa que se quer tornar exemplo de inclusão à deficiência.

Hoje, passados 2 meses e 27 dias lamento. Lamento não ter lutado pelo meu posto de trabalho. Ir ao advogado, levar relatórios médicos, whatever… Hoje lamento. Pelo colega que foi despedido, não porque já não era preciso, mas porque tinha uma deficiência.

Aos senhores doutores, CEO’s, quem quer que sejam, se querem ser o exemplo não vão por este caminho de mentira e inglória, porque, despedir pessoas com deficiência não é o caminho.

Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo… (Fernando Pessoa)

 

Bárbara de Sotto e Freire