quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

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«A vida é o que acontece enquanto você está ocupado com outros projectos.»
John Lennon
Bárbara de Sotto e Freire

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A tua ausência

Este natal vai ser mais triste. Vai ser sem ti. Não mais vou ouvir a tua voz, não mais vou ouvir que conseguis-te ultrapassar esta ou aquela batalha. Sempre foste lutador, desde que me conheço. Lembro-me de ires lá para casa, e estarmos todos juntos, eu, tu, o meu irmão e a tua irmã. Grande tarde, essa que recordo hoje com saudade.
Não sei se sou demasiado simplista, mas acho que a nossa existência se resume a duas questões: o que fizemos durante a vida, e como se recordarão as pessoas de nós após a nossa morte.
Tu bem sabes que conquistas-te as pessoas. Bem sabes que as tuas limitações fisicas te elevaram a um patamar bem mais alto que nós, na nossa limitada e mesquinha perfeição, nos permitem fazer. Lamento e choro a tua ausência. Hoje, este natal. Sempre. Como se a tua ausência tivesse tocado num ponto muito sensível de mim, e me tivesse feito pensar que afinal não tenho dado o meu melhor, não tenho amado no meu todo.
Este natal vai ser mais triste também por ti. Porque tiveste um acidente, e estás deprimido, numa cadeira de rodas, e eu não sei que te dizer. Chego à tua beira, mas não junto de ti. Queria abraçar-te e dizer que te adoro e que és uma pessoa espectular e que sem ti eu não sou, mas não consigo. Estás rezingão, e eu rezingona, perdida num mutismo que é meu, e que só eu conheço, numa zanga que é só minha, numa luta que travo com Deus, a perguntar-lhe porque é que não sou eu que estou no teu lugar. Não é justo.
Este natal vai ser mais triste porque eu te dou um pouco da minha alma, e tu magoas-me a alma inteira. E eu nem assim aprendo. E viras-me as costas, e surges do nada, novamente, pronto para mais uma investida, e eu vou outra vez. Numa amizade em que dar e receber não são os mesmos pratos da balança.
Este natal vai ser mais triste porque tu estás esquecido, e quase não me conheces. Tu. Eu que era a menina dos teus olhos. E agora, quase não sabes quem eu sou, ou o que faço.
Este natal vai ser mais triste, porque penso em tudo o que fiz e não o faria hoje. Em todas as escolhas que faria de uma forma diferente, oposta, contrária. Nas pessoas que teria amado mais, nas pessoas que não teria amado. Penso sobretudo nas coisas que não fiz, e no tempo que começa a passar demasiado depressa.
A vida teima em ensinar aquilo que não queremos aprender, daí que tenha a sensação que se repita em ciclos. Hoje choro a tua ausência, as vossas auências, a tua e a tua também.
Este natal vais ser mais triste, porque hoje, esta manhã fria, e por isso real, sinto que não sou quem me sonhei. Sinto que esta não é a vida que risquei para mim. E pergunto-me: o que fiz durante a minha vida?, como se recordarão de mim as pessoas após a minha morte?.
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 15 de novembro de 2009

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«Ser adulto é ser só.»
Jean Rostand
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 11 de outubro de 2009

Tudo isto é fado

«Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Eu disse que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
E disse que não sabia
Mas vou-te dizer agora
Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor, ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado
Se queres ser o meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
A canção que é meu castigo
Só nasceu pra me perder
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer.»
Tudo isto é fado
Letra de Aníbal Nazaré e F. Carvalho
Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Viver de novo

«Se tivesse de viver de novo a minha vida, não procuraria ser tão perfeito. Relaxaria um pouco mais. Seria um pouco mais flexível. Não levaria tantas coisas a sério. Faria mais loucuras, não seria tão circunspecto, nem tão equilibrado. Aproveitaria mais as oportunidades, faria mais experiências, escalaria mais montanhas, nadaria em mais rios, contemplaria mais pores do sol, comeria mais gelados. Teria mais preocupações reais e menos imaginadas.
Eu fui um desses que vivem com um método e uma higiene absolutos, hora após hora, dia após dia. Um desses que não vão a lado nenhum sem um termómetro, uma camisola de lã, um produto para enxaguar a boca. Teria viajado mais leve. Faria mais excursões e brincaria mais com as crianças.»
Carta escrita por um homem de oitenta e cinco anos, na véspera da sua morte, dirigida aos seus netos.
«A vida é um banquete e a maioria dos malditos loucos morre de fome.»
Ele sabe que somos assim;Henrique Manuel
Bárbara de Sotto e Freire

A Mulher do leme!

«Sozinho na noite
um barco ruma para onde vai.
Uma luz no escuro brilha a direito
ofusca as demais.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

E uma vontade de rir
nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo do mar
jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
descanso eterno lá encontraram.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

(...)No fundo horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...»
Homem do leme
Xutos e pontapés
Bárbara de Sotto e Freire

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Momento final

«Sentado...e a árvore ali ao pé de mim....
O vento agora já nem vem aqui!!!
Deixei de ter com quem falar
Fiquei sozinho com o meu olhar...
Do longe se faz em mais perto....
Sentindo e o tempo for incerto...
Ouvindo sons que só eu sei pensar....
Sorrindo parto para outro lugar..
O meu momento final eu sei que tenho um lugar
onde o santo e pecador podem vir descansar...
No meu momento final eu sei que tenho um lugar
onde o santo e pecador podem vir descansar!!...»
Momento final
Santos e pecadores


Bárbara de Sotto e Freire

sábado, 3 de outubro de 2009

03 de Outubro de 2008

Lembro-me de ti como se fosse ontem. Tão real como foste no sonho que tive esta noite. Tão etérea como o perfume que te acentuava a personalidade. Tão frágil e tão forte. Lembro-me de ti. Tenho saudades tuas. Hoje queria abraçar-me a ti e chorar e rir. Só porque sim. Só porque me apetece. Só porque passou um ano desde então. Só porque acredito em sonhos.

Há um ano atrás acreditava que vestir uma camisola era dar tudo por ela. Era vender um sonho real. Era ser a voz de uma empresa, e ao mesmo tempo apenas um membro de uma equipa. Era ter de dar tudo por tudo, nem que isso significasse dormir no call center. Para mim trabalhar, não era trabalhar... Era um prazer. Mesmo quando eles davam luta, mesmo quando eles desistiam e eu ficava furiosa. Era levantar-me, pela manhã, com entusiasmo. Passado um ano, vejo este filme, de uma forma diferente. Sabes, é como se me estivesse a analisar a mim mesma, como se fosse, hum, auto-psicóloga, percebes?!

Neste momento acredito nos mesmos valores, continuo a acreditar no "não pressiones, impressiona", mas o mundo, o meu mundo, não é tão coeso, tão sólido, tão estruturado, tão unido, tão feliz, como era nesse "mundo laranja". Ás vezes sinto que luto contra a corrente, e apesar de saber onde estou, não sei bem por onde vou. É como se a vida fosse como um capuccino, ao mesmo tempo doce e amargo, ou então é como aquele perfume angel ou demon: permanentemente os dois lados da moeda.

Sabes, no fundo acredito que um dia, que espero que não demore muito, vou estar em paz, comigo, com o mundo e com Deus, vou conseguir deixar o trabalho no trabalho, saborear a vida de uma forma tranquila, e dormir descansada. Até lá resta-me aprender.
Um dia de cada vez. Cada minuto no seu tempo.
Mas hoje espero que passe lento.

O motivo desta carta? Acredito no sinal oculto dos sonhos. E apesar não os saber interpretar, senti que tinha isto tudo para te contar. Nada de importante, como vês.
Espero, que com esta carta, sintas também que me ensinas-te muita coisa, e uma delas foi a cultivar a amizade, porque "ninguém é feliz sozinho, nem mesmo na eternidade".

Até sempre,

Bárbara de Sotto e Freire

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Razão para vivê-la

Por vezes queremos que a vida pare. Queremos emoldurar momentos, sentimentos, pessoas. Queremos perpetuar numa imagem muito nossa o sorriso, um elogio, um olhar. Por vezes quero que o tempo volte para atrás para amar até ao limite, odiar no limiar da resistência, sentir no mais profundo do sentimento. Impossível voltar atrás, mas também dificil de andar adiante, por não nos termos exultado até à maior perfeição de sentir. Então restam-nos essas maravilhosas fotografias, onde criopreservamos o nosso futuro emocional. Imagens de momentos, de sorrisos, de silêncio. Momentos de aplausos pendurados no tempo, que nos perseguem incessantemente. Silêncios desencontrados, como notas soltas, num mundo que construímos diariamente. E é nesse limite, em que o presente se toca com ontem, em que os átomos enaltecem a cor do pôr-do-sol, em que a utopia é realidade, que a vida nos dá razão para vivê-la.
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 20 de setembro de 2009

Silêncio

Henry Fuseli

Bárbara de Sotto e Freire

Dos sonhos

«Não pondero, sonho. Não me sinto inspirado, deliro.»
Fernando Pessoa
Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Poema do silêncio

«Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.
Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.
Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!
Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...
O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.
Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!
Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.
Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!
Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.
Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!
Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.
Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...
Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...
Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.»
José Régio
Bárbara de Sotto e Freire

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Dos livros - I

«Uma das coisas que muita gente faz no verão é ler livros.
Durante o ano, a maioria confessa que passa os olhos por jornais e revistas, que consulta obras de referência necessárias às respectivas profissões, que gasta os olhos a ler papelada de índole profissional, que vai à net como quem bebe copos de água e lê o que conhecidos, mesmo que virtuais, por ali vão deixando. Os livros, propriamente ditos, vão-se lendo devagarinho, duas páginas de cada vez, antes de adormecer ou nas "secas" programadas. Mesmo sendo verdade que "nunca" como hoje a actividade editorial teve melhores dias, o facto é que se publica por surtos "coisas" que parece que as pessoas podem querer ler. Umas vezes são uma espécie de ensaio sobre as mil e uma maneiras de ter sucesso, de manter-se eternamente saudável ou jovem, de conquistar o par ideal ou melhorar a auto-estima. Outras, a aposta vai para as receitas de poupança, de investimento, de ganhar dinheiro, de profissões de futuro ou de visões economicistas razoavelmente defendidas. Há os livros de viagem com mapas, dicas sobre hotéis, restaurantes, actividades a experimentar e sítios a conhecer. Há os livros de culinária - que está na moda -, bonitos e que fazem salivar só de olhar para as fotografias das iguarias que nunca se chegarão a confeccionar. Sempre atraente é o nicho de livros dedicados às mães que já o são ou em vias de o ser e aos problemas prováveis dos respectivos rebentos. Há, depois, os livros quase técnicos, que ensinam de forma prática e fácil aquilo que parece inacessível nos grandes e caros compêndios. Sobram as crónicas curtas de personagens minimamente conhecidos que permitem opiniões sobre assuntos banais e alguns mais etéreos, e uma espécie de literatura de moda que, actualmente, se fascina com temas góticos em versão light, em rigor com vampiros apaixonados. Dizem os especialistas que há autores que vendem apenas pelo próprio nome, mesmo sendo duvidoso que os seus livros façam mais do que enfeitar estantes.
No meio disto, causa alguma surpresa que os pouquíssimos autores que até têm histórias para contar, ainda por cima bem contadas, continuem a existir, a escrever, a vender alguns livros e a ter algum público atento que os lê todo o ano. Até no verão.»
Isabel Leal
In Caras, 29 Agosto 2009
Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O futuro não é aliado

«Partira confuso mas regressara lúcido. Muito do que antes era obscuro tornara-se agora evidente. Mal deixara aquela baía junto ao lago, o desejo de voltar para casa possuíra-o. Compreendia a justeza da decisão de Tinder, e de Baboo. Henry era um homem taciturno, cheio de dúvidas e preocupações, mas era também leal. (...) Muito do que acontecia no mundo era obra do acaso. (...) A vida era um enxame de acidentes à espera entre a copa de uma árvore, pronto a descer sobre qualquer criatura que passasse, para a comer viva. Nadávamos num rio de acasos e coincidências. Agarrávamos os acidentes mais felizes - deixando que a corrente levasse os outros. Encontrávamos um homem bom, com quem um cão ficaria em segurança. Olhávamos em redor e descobríamos a coisa mais invulgar do mundo sentada ao lado, olhando para nós. Algumas coisas eram certas - as que já tinham acontecido - , mas ninguém adivinhava o futuro. (...) Mas para todos os outros, o futuro não era aliado. cada pessoa tinha apenas a sua vida como moeda de troca. (...) De uma maneira ou de outra, havia de gastar a sua vida.»
A história de Edgar Sawtelle
David Wroblewski
Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ás vezes

Ás vezes choramos sem razão. Ás vezes choramos com uma dor de alma profunda, como se a nossa alma só conhecesse um lado.
Ás vezes os dias correm mal.
Ás vezes sentimo-nos perdidos, sozinhos, nostálgicos.
Não suportamos ver ninguém, muito menos a nossa imagem no espelho.
Ás vezes não nos apercebemos do quanto as pessoas nos ferem, nos magoam, nos decepcionam. Quando muito, não nos damos conta, do quanto nos podemos decepcionar a nós mesmos.
Ás vezes os dias passam rápido.
Ás vezes não tomamos as decisões certas, no tempo devido.
Não amamos na mesma medida.
Ás vezes amamos tanto, que ficamos vazios.
Ás vezes sentimos que a nossa vida é feita apenas de despedidas, sem ter sido possível, alguma vez, gravar nos olhos da alma, os olhos de quem vai.
Ás vezes não gozamos o momento, não sorrimos genuinamente.
Ás vezes queremos mimo.
Ás vezes nem a carapaça da indiferença nos permite resistir aos mais afiados aguilhões.
Ás vezes é mais fácil enfiar a cabeça na areia, porque temos medo do desconhecido, temos medo de falhar. Falhar com os nossos sonhos e promessas de outrora. Ás vezes somos a nossa própria desilusão.
Ás vezes tornámo-nos os melhores. Ou os piores.
Ás vezes achamos que a vida só nos coloca obstáculos.
Ás vezes não somos suficientemente inocentes para acreditar na vida, e somos levianamente perspicazes levados a acreditar que alguém, um dia, nos poderá entender.
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 9 de agosto de 2009

Em jeito de homenagem

"Façam o favor de ser felizes..."
Raul Solnado, actor genial, humorista brilhante que celebrizou esta frase
1929-2009

Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A gaveta do escritor

«Quando não escrevia (ou seja, quando apenas debitava letras em papéis, algumas delas formando palavras e consequentes frases, mas sem nenhuma intenção de contar histórias, como responder a uma carta, pois sou do tempo dos correios, ou fazer relatórios e trabalhos de escola que, obviamente, nunca seriam realmente lidos), achava que os escritores eram uma espécie dentro da própria espécie humana. Quando não escrevia (ou seja, não planeava ser publicado, psicopata interessante, um tipo de exibicionismo que deveria ser melhor estudado por médicos e cientistas), acreditava que os escritores andavam pelo mundo a anotar em cadernos, blocos e mentalmente, histórias fantásticas que ficavam a espera que as musas donas daquelas narrativas aparecessem para tomar conta do trabalho, desencarnando personagens e tramas, desenrolando literários novelos. Quando não escrevia (se é que isso um dia foi uma verdade), reflectia sobre onde os escritores guardavam as suas ideias, chagando a conclusão que todos tinham uma "gaveta". A tal "gaveta" tinha (e tem) aspas, pois cedo aprendi que tudo pode ser metaforizado, ou como escreveu o poeta Gilberto Gil para ser cantado numa bela canção: "Uma lata existe para conter algo/ Mas quando o poeta diz: "Lata"/ Pode estar querendo dizer incontível". E foi mais ou menos ao mesmo tempo em que realizei que poderia ser (mesmo que mau, nada tem que ser bom para existir) um escritor, que escrevi um dos meus primeiros contos, que dizia mais ou menos assim:
"Na gaveta do escritor cabe tudo, cabem todos.
Na gaveta do escritor há rascunhos, há rabiscos, há ladrões.
Há fadas, há cabras, há poemas, espiões.
Amigos, a gaveta do escritor é, como diz o outro, um perigo.
É melhor não abri-la sem mandato do juíz, sem carta do ministro, sem autorização.
Da gaveta do escritor podem sair delírios, unicórnios, maldades.
Podem sair belas morenas, mas também dragões.
É na gaveta qe o escritor esconde a verdade, seus medos, manias, mistérios, ansiedades.
É lá que está um futuro prémio Nobel, um manifesto surrealista e uma apólice de seguro vencida.
É uma verdadeira Torre de Babel, lá falam-se línguas secretas, onde as frases começam por virgulas e terminam com dois pontos:
O escritor mente quando diz que não tem uma gaveta. Por melhor que seja, há sempre um conto incompleto, um artigo esquecido, um romance de fundo.
A gaveta do escritor é um túmulo.
Ali jazem segredos, personagens, mundos.
Se procurar com jeitinho vai encontrar um labirinto de Borges, um Pessoa obscuro.
Há canetas sem tinta, papelinhos, envelopes.
Há cigarros mofados, clips entortados, piratas torturados, miúdos reguilas, filósofos, velhotes.
Há agendas repletas, fitas cassettes, fotos antigas.
Há pó, há lixo, há vestigios do crime, há aspirinas.
Mas se quer mesmo abrir a gaveta, faça com uma certa precaução.
Passe na Papelaria Fernandes, compre um fato de abrir gavetas ou de assaltar estantes, vá então a duas ou três igrejas distantes. Peça a um padre para fazer a extrema-unção.
Depois espere que o escritor saia para encontrar a sua musa ou para tomar seus copos ou para pedir sua esmola.
Entre no seu quarto não de pé mas sim de cócoras, tomando cuidado para (...) não rasgar a blusa.
Aí então atire-se sobre a mesa, repire fundo e abra a gaveta.
Leia sem grandes citérios o que está lá escrito, marimbe-se para a falta de unidade literária, com o maralhau de estilos.
Dê gargalhadas com o que vão dizer os críticos.
Depois pense em plantar uma árvore e ter um filho.
Foi o que eu fiz. E virei um livro."»
Edson Athayde
In "Os meus livros", Maio 2009
Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 26 de junho de 2009

The king of pop - Forever

«O meu irmão, o rei lendário da pop Michael Jackson, morreu quinta-feira, 25 de Junho de 2009, às 14h26 [hora local].»
Jermaine Jackson
Morreu Michael Jackson (MJ), o Rei da música Pop.
Foi em Los Angeles que MJ terá sofrido uma paragem cardíaca, e apesar de uma hora de tentativas de reanimação o rei da música Pop acabou por falecer. O corpo será sujeito a autópsia, por forma a apurar a causa desta morte inesperada.
Michael Joseph Jackson nasceu em 1958 no estado norte-americano do Indiana, e era o sétimo de nove filhos. Foi com apenas 5 anos que MJ se estreou naquele que viria a ser o seu mundo, o da música, com os seus irmãos, na banda Jackson Five, onde revelou um talento inato para a música. Iniciou carreira a solo em 1979 com o álbum “Off the Wall”, mas foi o seu disco Thriller, editado em 1982, que o celebrizou como o Rei da Pop: tornou-se o álbum mais vendido de sempre (mais de 100 milhões de cópias vendidas). Michael Jackson foi por duas vezes reconhecido no “Rock’n Roll Hall of Fame” e venceu 13 Grammys.
«A música de Michael Jackson marcou de forma indelével os anos 80 e influenciou toda uma geração de músicos e os vídeos que acompanharam os seus sucessos transformaram a indústria, abrindo a porta ao sucesso dos canais televisivos musicais como a MTV.»
Tão genial quanto a sua música, foi a especulação que ao longo dos anos se criou em torno da sua vida pessoal.
A sua transformação física, e as várias cirurgias plásticas a que se submeteu eram fonte de permanente observação. Em 2005 recaíram sobre si suspeitas de abuso de um menor, um mediático processo no qual foi absolvido.
Casou com Lisa-Marie Presley, e posteriormente com Deborah Rowe, com quem teve dois filhos. A mãe do seu terceiro filho não tem identidade conhecida.
A sua obsessão por Peter Pan era outra das suas excentricidades. Morou num rancho que designou “Neverland”.
Para lá de especulações e excentricidades desenvolveu também um importante trabalho humanitário, sendo o responsável pelo single “We Are The World”, de ajuda a África.

«Tão espectacular como o seu fulgurante sucesso foi o seu colapso: há doze anos que Jackson se mantinha afastado dos palcos.» De facto o público que constrói uma estrela, é o mesmo que a destrói. Qualquer mente genial e revolucionária não é entendida na sua totalidade, e é mais fácil apontar-lhe os defeitos, do que fazê-la brilhar.
MJ tinha agendado 50 concertos em Londres, a terem início a 13 de Julho, cujos bilhetes esgotaram poucas horas depois de serem anunciados. Fontes de imprensa norte-americana noticiaram que esses espectáculos “seriam uma espécie de pontapé de saída para uma tournée mundial de três anos e um novo álbum de originais”. Informam também que MJ tinha planos para transformar o seu álbum “Thriller” numa espécie de musical para casino, a apresentar em Las Vegas e Macau.
A morte do inigualável MJ foi um choque; amigos, colegas e figuras públicas demonstraram a sua consternação perante a morte do mítico MJ, particularmente a comunidade afro-americana que via em MJ um símbolo de prosperidade, talento e brilho.
“O mundo nunca deixará de escutar Michael Jackson”
Al Sharpton

Discografia a solo:
1972 - Got to Be There
1972 – Ben
1973 - Music and Me
1975 - Forever, Michael
1979 - Off The Wall
1982 – Thriller
1987 – Bad
1991 - Dangerous
1995 - HIStory - Past, Present, And Future, Book I
1997 - Blood On The Dance Floor - History In The Mix
2001 - Invincible
2003 – Number Ones

Fontes:
*http://www.destak.pt/artigos.php?art=33586
*http://www.rr.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=93&did=60616
*http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1388807&idCanal=42
Bárbara de Sotto e Freire

"Eu vou ter ao Piolho!"

O café Piolho faz hoje 100 anos. Também conhecido como "café Âncora de Ouro", o Piolho junta-se hoje aos já centenários cafés da Invicta "A Brasileira" e o "Café Progresso".
Este café lendário situa-se na Praça Parada Leitão, em frente ao edifício da antiga Reitoria da Universidade do Porto, junto do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, do Hospital Geral Santo António e do Jardim da Cordoaria.
Ainda hoje o Piolho é um ponto de encontro, um espaço de tertúlia, onde nascem ideias geniais, onde se estuda, se filosofa, se namora, onde se ri, onde as pessoas se encontram inexoravelmente. Desde 1909. Há 100 anos!
Desde 1909 que gerações e gerações de futuros médicos, engenheiros, psicólogos, e de outras tantas licenciaturas, se sentaram no Piolho tornamdo-o um marco da minha cidade.
Foram bons os momentos que lá vivi. O café que lá tomava pela manhã, estudar com génios, o baptismo de caloiro, as noitadas (confesso, não foram assim tantas quantas mereci!).
Tudo isso é bem patente nas várias placas de agradecimento que estão emolduradas nas paredes do Piolho. Uma vida. Muitas vidas.
A sua arte, desde a ventoínha, ás caixas registradoras, e a vários outros pormenores, que só são visíveis a por quem lá passa, e a quem por lá se senta, permanecem como testemunho de 100 anos que se foram adaptando ás exigências dos nossos tempos.
O Piolho tornou-se de facto um testemunho da Invicta, do frenesim da cultura, e da energia inebriante que corre naquela que será sempre a minha Cidade, o Porto.
Fontes:
Bárbara de Sotto e Freire

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Poema

«A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada»
Sophia de Mello Breyner Andresen

Bárbara de Sotto e Freire

Grandes obras

«As grandes obras podem ser idealizadas pelos génios mas, normalmente, são concretizadas pelos lutadores, desfrutadas pelos felizes e criticadas pelos inúteis crónicos.»
Autor desconhecido
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 21 de junho de 2009

O reverso

«A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.»
Horácio
Bárbara de Sotto e Freire

A luta pelo meu, nosso, Planeta

«Olhos bem abertos, percorro a paisagem
E guardo o que vejo, para sempre, uma clara imagem
Um manto imenso de água, um pingo move o mundo,
Corrente forte exacta, de um azul quase profundo,
Um sopro de ar, faz girar, o mundo melhor,
Raio de sol, luz maior, para partilhar,
O espelho nunca mente, fiel como ninguém,
Faz da vida, paixão energia, que toca sempre mais
alguém
Vai, espelho de água, trata e guarda, o que é nosso afinal,
Em nós, vive a arte, de ser parte, de um mundo melhor,
Eu sei, que gestos banais, parecem pouco, mas talvez sejam fundamentais,
Vai, espelho de água, trata e guarda, o que é nosso afinal,
Em nós, vive a arte, de ser parte, de um mundo melhor,
Vai, espelho de água, trata e guarda, o que é nosso afinal,
Em nós,vive a arte, de ser parte, de um mundo melhor, vai.»
Paulo Gonzo
Espelho de Água
Letra retirada de:
Bárbara de Sotto e Freire

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Princesa Desalento

«Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É revoltada, trágica, sombria,
Como galopes infernais de vento!

É frágil como o sonho dum momento,
Soturna como preces d'agonia,
Vive do riso duma boca fria!
Minh'alma é a Princesa Desalento…

Altas horas da noite ela vagueia…
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!

O luar ouve a minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta…»

Florbela Espanca
«Livro de Soror Saudade», in «Poesia Completa»
Retirado de:
Bárbara de Sotto e Freire

terça-feira, 16 de junho de 2009

Reflexão em dia de aniversário - IV

«A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo.»
Gustave Flaubert
Bárbara de Sotto e Freire

Reflexão em dia de aniversário - III

«O homem vale na medida da sua capacidade de admirar.»
Ernest Renan
Bárbara de Sotto e Freire

Reflexão em dia de aniversário - II

«Nada de grande se faz sem sonho.»

Ernest Renan
Bárbara de Sotto e Freire

Reflexão em dia de aniversário - I

«A leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurança e a escrita exactidão.»
Francis Bacon
Bárbara de Sotto e Freire

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Põe-na lá!

«Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela? Põe-na lá!»
Vergílio Ferreira
Bárbara de Sotto e Freire

domingo, 14 de junho de 2009

Muitas maneiras de ver

«Para ver claramente, basta mudar a direcção do olhar.»
Antoine de Saint-Exupéry
Bárbara de Sotto e Freire

sábado, 13 de junho de 2009

Queria um voar perfeito

«Se uma gaivota viesse
Trazer-me o céu de Lisboa
No desenho que fizesse
Nesse céu onde o olhar
É uma asa que não voa
Esmorece e cai no mar
Que perfeito coração, no meu peito bateria
Meu amor na tua mão, nesse mão onde cabia
Perfeito o meu coração
Se um português marinheiro
Dos sete mares andarilho
Fosse, quem sabe, o primeiro
A contar-me o que inventasse
Se um olhar de novo brilho
Ao meu olhar se enlaçasse
Que perfeito coração, no meu peito bateria
Meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração
Se ao dizer adeus à vida
As aves todas do céu
Me dessem na despedida
O teu olhar derradeiro
Esse olhar que era só teu
Amor, que foste o primeiro
Que perfeito coração, no meu peito bateria
Meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia
Perfeito meu coração»
Gaivota
Alexandre O'neill; Alain Oulman
Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 3 de junho de 2009

(No fio dos anos) Sempre a correr

«Algo que aconteça
De tragicamente grande
Por que valha a pena
Deixar correr o sangue.
Algum desígnio épico
Enorme e emotivo
A rasgar o
Céu aberto
A queimar no
Sol a pino.
Assim uma tempestade
Que cresce no horizonte
Negro mar imenso
Tocado pelo vento forte.
Que faço eu aqui
Se não mudar o mundo
O mal tem raiz
E a cura tem um rumo.
Tanto fizemos
De puro prazer
No fio dos anos
Sempre a correr.
E sempre a correr
Passámos pelos dias
Procurando viver
O que a vida nos destina.»
(No fio dos anos) Sempre a correr
UHF
Bárbara de Sotto e Freire

A vida nos anos

"Não acrescente dias à sua vida, mas vida aos seus dias."
Lao-Tsé
Bárbara de Sotto e Freire

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Paciência

«Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para...
E quando o tempo acelera e pede pressa
Eu recuso faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara...
E quando todo o mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...
Será que é tempo que me falta para perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber, a vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, eu sei
A vida não para...
A vida não para não!
Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo p'ra perder
E quem quer saber, a vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, eu sei
A vida não para
A vida não para não!»
Paciência
Mafalda Veiga
Bárbara de Sotto e Freire

terça-feira, 19 de maio de 2009

I believe I can fly

«I used to think that I could not go on
And life was nothing but an awful song
But now I know the meaning of true love
I'm leaning on the everlasting arms
If I can see it then I can do it
If I just believe it there's nothing to it
I believe I can fly
I believe I can touch the sky
I think about it every night and day
Spread my wings and fly away
I believe I can soar
I see me running through that open door
I believe I can fly
I believe I can fly
I believe I can fly
See I was on the verge of breaking down
Sometimes silence can seem so loud
There are miracles in life I must achieve
But first I know it starts inside of me,If I can see it Then I can do it
If I just believe it there's nothing to it
I believe I can fly
Bárbara de Sotto e Freire

Alone

"A verdadeira liberdade é um acto puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir a liberdade até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão."
Platão
Bárbara de Sotto e Freire

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Canção da chuva

«Por essa chuva a cair lá fora
Por essa luz que já enche o ar
Por essa noite que se demora
E não quer passar
Por essa voz a chamar no escuro
Pela canção que vem do mar
Pelas palavras que não procuro
Nem quero achar
Por quem se aproxima sem ruído
De mansinho
E deixa ao passar
No ar um silêncio, nos sentidos
Como um vinho
Que me faz lembrar
Antigos cantos proíbidos
De se cantar
Por quem, no meu corpo
Os mistérios
Mais escondidos
Teima em acordar
Há teima em acordar
Por esses dias que me fugiram
Por entre os dedos sem se deter
Como essa chuva a cair na rua sombria e nua
Sem eu saber
Talvez só por estarmos sós
Esta noite em nós
Insista em nos levar, p'lo ar, p'lo ar
P'lo ar...»
Canção da Chuva
Adelaide Ferreira; Composição: Pedro Malaquias
Bárbara de Sotto e Freire

terça-feira, 12 de maio de 2009

Balada dum estranho

«Hoje acordaste de uma forma diferente dos outros dias
sentes-te estranho tens as mãos húmidas e frias
tentas lembrar-te de algum pesadelo mas o esforço é em vão
parece-te ouvir passos dentro de casa mas não sabes de quem são

Deixas o quarto e vais a sala espreitar atrás do sofá
mas aí tu já suspeitas que os fantasmas não estão la
vais a janela e ao olhares pra fora sentes que perdeste o teu centro
e de repente descobres que chegou a hora de olhares para dentro

Porque há qualquer coisa que não bate certo
qualquer coisa que deixaste para trás em aberto
qualquer coisa que te impede de te veres ao espelho nu
e não podes deixar de sentir que o culpado és tu

Vês o teu nome escrito num envelope que rasgas nervosamente
tu já tinhas lido essa carta antecipadamente
e os teus olhos ignoram as letras e fixam as entrelinhas
e exclamas: Mas afinal... estas palavras são minhas!"

O caminho pra trás está vedado e tens um muro a tua frente
quando olhas pros lados vês a mobília indiferente
e abandonas essa casa onde sentiste o chão a fugir
arquitectas outra morada, mas sabes que estas a mentir.»

Balada dum estranho
Jorge Palma
Bárbara de Sotto e Freire

É proibido

«É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo das tuas lembranças.
É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague pelas tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessitas deles.
É proibido não seres tu mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de ti,
Esquecer aqueles que te amam.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo (...)
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque os seus caminhos se desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a tua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criares a tua história (...)
Não ter um momento para quem necessita de ti,
Não compreenderes que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,
Não viveres a tua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentires que sem ti este mundo não seria igual.»
Pablo Neruda, adaptado

Bárbara de Sotto e Freire

O Mostrengo

«O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: "Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo
Meus tectos negros do fim do mundo?"
E o homem do leme disse, tremendo:
"El-Rei D. João Segundo!"
"De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?"
Disse o mostrengo e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
"Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?"
E o homem do leme tremeu, e disse:
"El-Rei D. João Segundo!"
Tês vezes do leme as mãos ergueu,
Tês vezes ao leme as repreendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
"Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostengo que minh'alma teme
E roda nas trevas da fim do mundo
Manda a vontade que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!"»
Fernando Pessoa
Mensagem, 1934
Bárbara de Sotto e Freire

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Fundo do mar





«No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.»



Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética I





Bárbara de Sotto e Freire

We are the world

«There comes a time when we hear a certain call
When the world must come together as one
There are people dying
And it's time to lend a hand to life
The greatest gift of all
We can't go on pretending day by day
That someone, somewhere will soon make a change
We are all part of God's great big family
And the truth, you know, love is all we need
We are the world, we are the children
We are the ones who make a brighter day
So let's start giving
There's a choice we're making
We're saving our own lives
It's true we'll make a better day
Just you and me
Send them your heart
So they'll know that someone cares
And their lives will be stronger and free
As God has shown us by turning stones to bread
And so we all must lend a helping hand
When you're down and out, there seems no hope at all
But if you just believe there's no way we can fall
Well, well, well, well let us realize that a change can only come
When we
stand together as one
We are the world, we are the children
We are the ones who make a brighter day
So let's start giving
There's a choice we're making
We're saving our own lives
It's true we'll make a better day
Just you and me
Theres a choice were making
Were saving our own lives
It's true we'll make a better day
Just you and me»

Stevie Wonder
We are the world


Bárbara de Sotto e Freire

Imagine

«Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today
Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace
You may say,I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day
You'll join us
And the world will be as one
Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world
You may say,I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day
You'll join us
And the world will be as one»
Imagine
John Lennon
Bárbara de Sotto e Freire