sábado, 29 de novembro de 2008

Desabafo

Há dias em que nos sentimos outsiders. Sentimo-nos indesejados, frustrados, incompletos, incompreendidos. Mal amados. Desamados.

Sentimos na pele que nascemos e morremos sozinhos.

Vivemos como se de actos fosse a vida, mas de facto ela é feita das consequências.

Há alturas em que a vida parece um jogo de xadrez corrompido, um átomo que não retorna ao estado fundamental.

Há alturas em que vida não é vida, mas um fardo; em que a saudade daquilo que ainda não se viveu toca fundo, e a saudade de outrora pesa, e a saudade de quem se gosta é um fado que se canta a chorar.



A vida é um momento, um rebuçado amargo que se traga até ao fim, um cigarro que se fuma e que se apaga.
É um abandono de si, um desafogar de emoções. É uma luz que se acende no vácuo.
É eterna enquanto dura. A eternidade é vida enquanto passa. A vida é uma guerra eterna contra o fim inevitável.
É nada ser e nada ter esperando tudo.
É despedir-mo-nos de nós. É dizer adeus. É rezar. É um calvário. É uma cruz que se transporta, e que se ama odiando.
A vida é aprender nada estando certo.
É pequena para tudo. Um tudo que é nada.
É uma travessia num deserto até à morte.

Há dias em que somos realmente outsiders...

Bárbara de Sotto e Freire

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