sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Carta a Esmeralda

Tens nome de pedra preciosa. Já to disseram alguma vez?!
Bem sei que ainda és uma criança e talvez por isso não compreendas parte desta carta. Ou talvez por isso, no meio da tua inocência perdida nos meandros do abandono da vida, compreendas, mais do que aquilo que eu pense.
Não te digo que esta decisão, a de seres entregue ao teu pai biológico, é justa ou injusta. Desde há alguns anos que tento ter a mente aberta relativamente à justiça, e relativamente ao amor. Parecem, e são coisas inconciliáveis, as leis e o amor, não achas? Afinal, o amor não tem leis. Perdemos sempre aquilo que mais amamos. Mas com isso ganhamos muito estofo, muita sabedoria para ver a vida com outros olhos, para amar noutra perspectiva, e não no fio da navalha.
Penso que deves estar a viver uma situação de dualidade. Mas o nosso coração tem sempre lugar para amar. E mesmo que aprendas a amar o teu pai biológico, acredito que não vais esquecer o amor que sentes pelos teus verdadeiros pais.
A partir do momento em que tomamos uma decisão na nossa vida, ou tomam uma decisão por nós, não podemos dizer que o nosso futuro teria sido melhor se tivessemos seguido pelo outro caminho. Pela outra alternativa. Pela outra possibilidade que havia para escolher. Não sabemos o que o futuro nos reserva. Aquilo que te estou a tentar dizer é para não teres medo. Ergue a cabeça, por mais saudade que tenhas. Sorri por mais vontade de chorar que sintas. Segue em direcção ao futuro e luta, fazendo justiça ao amor e à educação que os teus verdadeiros pais, os afectivos, te deram. Não te arrependas de errar. Deus dá sempre uma segunda oportunidade. Sabes que quem te ama, continuará a amar-te, mas quem quer aprender apenas a gostar de ti, e não a amar-te, sentirá desconfiança e medo pelo brilho, e pela elegância com que traçares o teu destino.
Traça o teu rumo de maneira tão nobre quanto o nome que tens.
E mostra aquele que um dia te abandonou que te tornas-te um ser humano tão magnifico quanto o milagre da vida...

Até sempre, com carinho

Bárbara de Sotto e Freire

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