domingo, 5 de outubro de 2014

Será que o amor acontece?

Hoje pergunto-me se realmente o amor acontece.
Foste único comigo. Acompanhaste-me às consultas, deste-me carinho, amor e proteção. Fomos viver juntos, e o nosso amor aconteceu, assim, tal qual ele era, sincero e transparente, porque para mim, tu eras a minha pessoa. Aquela pessoa especial que eu amei de forma autêntica. Aquela pessoa especial que todos os dias eu tentava compreender e me dava, de forma, original, divertida e sorridente, o seu amor.
Contudo, o tempo foi-nos desgastando.
O facto de termos alguns gostos diferentes levou-nos a estar cada vez mais afastados um do outro. Eu penso que foi isso. Julgo que foi o facto de tu gostares de voar com os teus aviões telecomandados, e de eu gostar de estar em casa, a ver televisão, com uma manta e uma caneca de chá, entre muitas outras diferenças que eu poderia apontar, que nos levou a discussões que se tornaram cada vez mais acesas, cada vez mais frequentes, cada vez mais dolorosas. A certa altura senti-me incompreendida, sabes? Não conseguia perceber a tua distância. A distância do homem que eu amava. E isso ainda me fazia sofrer mais dentro do meu sofrimento. Não consigo pôr-me no teu papel e fazer de mim o meu namorado… sei que é isso que tu, que me estás a ler, neste momento, me pedes. Mas não consigo inverter os papéis. Quando tento acho sempre que teria uma postura mais compreensiva e não tão fria. Eu que no início deste relacionamento achava que era a voz do ser racional e que não deixava falar o coração! Consegues ver o quanto me mudas-te? Eu amei-te de forma tão intensa, tão intrínseca, tão mágica e única, entreguei-me a nós como se o nós fosse a razão da minha existência, e aprendi tanto! Mas sabes, sofri muito também.
 
Em Novembro a nossa relação foi à rutura. Quiseste que eu saísse de casa e a minha mãe não me deixou voltar à casa dela. Aí achei que o mundo estava do avesso. Só me questionava porquê? Porque é que o Afonso me está a causar tanto sofrimento? Porque é que a minha mãe não me aceita de volta? Qual o motivo de uma história de amor acabar assim?
Chorei todos os dias por ti. Todos os dias te liguei a suplicar uma nova oportunidade para nós. Mas tu, Afonso, estavas irredutível. Tentei, por tudo, que os teus olhos, são lindos os teus olhos, se voltassem para mim, e só algumas semanas depois tu me deste a possibilidade de falar contigo pessoalmente.
 
Tentamos de novo viver juntos. Mas no mesmo dia em que me mudo para tua casa, tu dizes-me que não estás para me aturar.
Essas foram, até hoje, as palavras que mais me doeram, que mais me feriram a alma. Por mais que lave a minha memória, não consigo esquecer estas tuas palavras. Nem tudo o que te disse foi justo, muito longe disso. Mas jamais disse algo de tão grave que ficasse gravado na tua memória, como "aquelas palavras terríveis", como "as palavras que quando lembro tenho de fechar os olhos para não doer tanto".
Não me querias aturar?! Eu também não. Eu só queria estar contigo. Partilhar a felicidade dos meus dias com o príncipe que encontrara, livrar-me da infelicidade ao lado da minha pessoa, construir algo de que me orgulhasse ao olhar para trás, sempre contigo.
De facto depois disso ainda conversamos, mas a determinada altura eu não quis mais a minha pessoa para mim. A relação estava a ser muito conturbada, estava a prejudicar-me como nestes últimos meses. Eu queria alguma estabilidade, e era tudo o que eu não tinha contigo. Em Janeiro despedi-me de ti.
Mas nunca me esqueci do homem fantástico que és, da pessoa maravilhosa com quem partilhei momentos únicos e inesquecíveis.
Nunca me esqueci do teu pequeno-almoço, das tuas chamadas, do facto de me chamares "meu amor"… Nunca me esqueci do toque das mãos, nem do teu cheiro. Neste tempo que passou, jamais me esqueci de ti Afonso. Vou levar-te comigo para onde quer que eu vá.
Guardo memórias fantásticas do tempo que passamos juntos. Adorei atirar-te à neve, Amei a primeira viagem que fizemos juntos. Tu lembras-te?! E Porto Antigo? Foram dos dias mais especiais que tive… Tenho saudades dos teus cozinhados. Quero que saibas que ficas-te guardado num lugar bem especial.
Hoje desvinculei-me de ti. Há tempo de mais que chorava pelos cantos, que sonhava contigo, que me perguntava pelo meu Afonso, sabendo que já não eras meu, que nunca tinhas sido meu, mas alguém que tinha dado uma nova luz à minha vida. Hoje decidi reaver a minha energia projectada em ti e voltar ao meu caminho.
Não é solução viver enlutada por um homem vivo. Acho, sentidamente, que mereces ser feliz. E eu também. Guardo dentro de mim o Afonso minha pessoa. Brilha por onde fores. Para onde fores. Por onde o tempo te levar.
 
Bárbara de Sotto e Freire
04 de Outubro de 2014

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