segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Beijing 2008 - o adeus

Os Jogos Olímpicos acabaram como começaram, com um grande e fantástico espectáculo, montado pelos chineses, para surpreender o mundo. Contudo, o regresso a casa só será realmente feliz para uma minoria de atletas, incluindo dois portugueses.
Finda a competição cabe-nos fazer o balanço das medalhas, resultados, expectativas e das histórias e comentários que por lá se dizem ter contado.
Nos dezasseis dias de competição pouco falhou em termos organizacionais e desportivos, cujos aspectos foram levados ao pormenor. A parte mais ocultada foram as polémicas inerentes aos direitos humanos.
Há três momentos que marcaram estes jogos. Desde logo o recorde de oito medalhas de ouro na mesma edição dos Jogos que foi estabelecido por Michael Phelps na fabulosa piscina olímpica (e lá se foram as sete medalhas de ouro de Mark Sptiz...); Usain Bolt vence os 100m na pista “o ninho de pássaro” e estabelece um recorde do mundo; finalmente, a subida dos chineses à liderança do medalheiro, à frente dos Estados Unidos, que merece igualmente ser destacada.
Já os objectivos portugueses (quatro medalhas e sessenta pontos) apesar de terem ficado longe de terem sido atingidos, permitiram que a participação portuguesa fosse considerada positiva.


Nélson Évora sagrou-se campeão do mundo em triplo salto, depois de 12 anos de “jejum” para o nosso país em campeões olímpicos.

Segue-se a medalha de prata para a nossa Vanessa Fernandes. A prata foi realmente uma vitória, face à estrondosa corrida da atleta Emma Snowsill. "Senti que ainda não tinha chegado o momento de me tornar campeã olímpica, mas a sensação de subir ao pódio no segundo lugar é fantástica. Quando acabei a prova, parecia que estava a sonhar", afirmou a vice-campeã olímpica, revelando que agora vai descansar um pouco para depois definir novos objectivos.
A atleta portuguesa Naide Gomes, grande favorita à medalha de ouro em salto em comprimento, falhou a final, ao conseguir apenas 6,29m num único salto válido. Foi tristemente surpreendente. Se repetisse os 7,12m que a tornaram marca mundial 2008, ganharia a final.
Já a judoca portuguesa, Telma Monteiro, vice-campeã mundial no judo, alcançou o mesmo nono lugar de há quatro anos atrás em Atenas. A judoca superou o primeiro “round” mas no segundo, o sonho olímpico terminou. Ainda havia a possibilidade do bronze, mas Telma não conseguiu superar a sua adversária espanhola.
Na vela, conseguimos uma amargo quarto lugar para Gustavo Lima e oitavo lugar para Álvaro Marinho/Miguel Nunes e Afonso Domingos/Bernardo Santos, resultados que ficam aquém dos objectivos propostos, apesar de serem boas marcas.
Surpresas (boas) foram:
Ana Cabecinha com um oitavo lugar e um recorde nacional nos 20kms de marcha;
A dupla de remo Nuno Mendes e Pedro Fraga também surpreendeu com a passagem ás meias-finais nas repescagens;
Vera Santos atingiu um recorde pessoal nos 20Kms de marcha;
António Pereira foi 11.º e bateu o recorde nacional dos 50 km marcha.
O que foi realmente triste?!
Francis Obikwelu ficou-se pelas meias-finais dos 100 metros e Susana Feitor desistiu na quinta participação olímpica na marcha.
A 19 de Agosto Vicente de Moura, presidente do Comité Olímpico Português (COP) pediu aos atletas lusos "brio e profissionalismo", num recado aos que tinham passado a semana anterior a justificar insucessos com frases impensadas e impensáveis (digo eu...ao que li), mas teve de lhe acrescentar, passadas menos de 24 horas, um precipitado anúncio de saída do cargo no fim do mandato, (depois dos resultados de Naide Gomes e Gustavo Lima).Contudo depois de Nélson Évora ter salvo a honra do convento português no triplo salto, com a primeira medalha de ouro olímpica conquistada em 12 anos, Vicente de Moura voltou atrás, dizendo que até poderá vir a continuar na presidência do COP.
Dá a entender que à tradição do tipico bom português, Vicente Moura foge das responsabilidade quando os resultados não lhe são de feição, mas quando estes até são promissores, regressa para conduzir o leme… Pode ter sido apenas um momento de desânimo (e desaire, já agora). Adiante.
Foram tristes alguns dos comentários, talvez descontextualizados, que saíram nos jornais, como as lamentações dos nossos atletas para alguns dos parcos resultados obtidos.
Contas feitas, Portugal acaba os Jogos de Pequim com o feito inédito de ter ganho uma medalha de ouro e outra de prata na mesma edição, mas também com a sensação amarga de que podia perfeitamente ter batido o máximo de três, conquistadas em Los Angeles 1984 (uma de ouro e duas de bronze) e Atenas 2004 (duas de prata e uma de bronze).
Contudo não podemos gozar do pessimismo que muitas vezes nos caracteriza. O balanço foi positivo, devemos pensar que os nossos atletas agiram com brio e profissionalismo (onde é que eu já ouvi isto?!) e que demos o nosso melhor. No nosso fado deve estar previsto que em 2012, seja com ou sem Vicente Moura, vamos conseguir mais e melhor. Acredito em Portugal e nos atletas portugueses (que patriotismo!), porque se há algo que a nossa história nos diz é que somos um povo de convicções fortes. Em 2012 vamos conseguir medalhas, pontos e recordes. Há que trabalhar!
Neste momento não vale a pena pensar que podíamos ter feito melhor. Talvez o pudéssemos ter feito. Talvez o estado pudesse ter investido mais dinheiro e facultado melhores condições aos nosso atletas. Talvez os nossos atletas pudessem ter evitado comentários que transpareceram uma imagem que não nos revela, de todo… Talvez…
Talvez em 2012 essas falhas sejam colmatadas, e não hajam “ses” ou “talvez” ou “mas”, nem desculpas. Em 2012, mais que tudo isso, existam medalhas para discutirmos.
Parabéns aos atletas portugueses, pois só o facto de terem estado em Pequim revela que são do melhor que há. Para que 2012 seja ainda melhor, e supere expectativas, votos de um bom trabalho!

Bárbara de Sotto e Freire

Sem comentários: