quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Acreditar

Desde há já alguns meses que frequento as salas de cinema. Passei mais de dois anos sem me sentar em frente ao grande écran, sentia saudades de reviver a minha vida nas histórias dos outros, sentia saudades de me sentir a sós com a minha própria solidão, e no fundo acho que me dou a esse pequeno luxo de quando em vez, que cada vez é mais frequente.
Comecei com "Nunca é tarde de mais", depois foi "Sexo e a cidade", "Loucuras em Las Vegas", "Um belo par de patins", "Houdini - o último grande mágico", "Padrinho mas pouco", e mais recentemente, "Ficheiros secretos - quero acreditar" e "O panda do Kung Fu".
De todos os filmes trago lágrimas, sorrisos, imagens que já vivi na minha vida (não de forma tão glamourosa e requintada, obviamente), mas sobretudo lições. Algumas das quais já devia ter aprendido, mas no fundo são reforçadas, outras que descubro, e que, no fundo, me ensinam a crescer, a ser melhor, e a lidar melhor comigo mesma, com os meus medos e fantasmas, e a tirar mais proveito da vida. Lições que me ensinam a fazer os outros felizes, o que, surpreendentemente, me faz sentir feliz...
Bem. Mas já me sinto a divagar.
Este post vem mesmo no seguimento do colocado ontem - o que será que há de comum entre o filme "Ficheiros secretos" e o "Panda do Kung Fu"?!
O primeiro, um filme que é o culminar de uma série, que cativou milhares de fãs ao pequeno écran, devido não só ás fantásticas histórias, mas também à espectacular produção que cada capitulo encerrava. Seis anos após esta série surge então este filme, em que, depois dos X-files terem sido encerrados, e de Fox e Scully estarem a viver juntos (já agora, Scully exerce medicina e Fox goza de "férias forçadas"), ocorre uma chacina de mulheres, e uma das agentes desaparece... Mulder regressa ao FBI, por forma a tentar ajudar a encontrar a agente desaparecida e a desvendar este mistério, uma vez que temos um padre com poderes paranormais (como não poderia deixar de ser), e só Mulder saberá lidar com ele. Scully também regressa ao FBI, mas rapidamente se afasta deste caso, pois considera que esta será aquilo a que chama a "escuridão da sua vida". Mas não pretendo fazer a sinopse do filme. É nesta altura do filme, que o padre diz a Scully, numa frase, que pode parecer sem contexto, "Don't give up". A céptica Scully, tenta que Mulder desista do caso, mas a partir desse momento passa, talvez de forma inconsciente, a incentivá-lo a desvendar o mistério... E faz o mesmo ela própria, pela sua carreira, e por um caso que tem entre mãos: o de um menino com uma doença rara, e cuja cura não é conhecida, apenas com terapia radical, a qual ela decide experimentar, contra a opinião e vontade dos colegas.
O impacto que umas simples palavras, como "não desistas", podem ter no desenrolar de toda a história...(e de uma vida, já agora).
Bem sei que a crítica ao filme não é das melhores, mas não é dessa que pretendo falar. Não é do fantástico, ou da acção que estou a falar. Nem do suspense. Nem mesmo do paranormal. É do imprevisto, e do impacto que aquilo que os outros nos dizem, das mensagens que nos passam, da fé que profetizam, do sorriso que transparecem, do brilho que emanam quando falam de nós, do orgulho que têm em ter-nos como colegas... Ou então, da falta de confiança que sentimos, quando ninguém aposta em nós, em como nos sentimos falhados quando nos dizem que "não vale a pena", mesmo que subtilmente, quando sentimos que pisamos areias movediças e nem por isso temos uma mão para nos ajudar...
Quanto ao "Panda do Kung Fu"... Bem, sou suspeita, porque admiro os filmes de banda desenhada. Este é o filme do panda Po que trabalha com o pai numa loja de massas, mas que sonha com o Kung Fu. O pai sonhou-o cozinheiro, mas Po sonhou-se lutador... Ironicamente, Po é o escolhido para dirigir o vale, e salvá-lo do malévolo Tai Lung. A ambição dos cinco magníficos, um dos quais seria supostamente "o escolhido", faz com que Po seja mal recebido, e constate que os seus quilos extra, e as suas técnicas de combate não o fazem o melhor rei do Kung Fu. A aliar a estes aspectos conta com a describilidade que o mestre Shifu inicialmente lhe remete. Contudo, quando a tartaruga - rei (desculpem, não sei o nome) se eteriza, dá as indicações a Shifu, de que "basta acreditar"... então, Shifu investe em Po, que se torna num verdadeiro mestre do Kung Fu, e vence Tai Lung, salvando a cidade e a população... Durante todo este processo Po passa por momentos de tristeza, frustração, desânimo, porque não acreditaram nele, e ele próprio deixou de acreditar nas suas capacidades. Contudo, a partir do momento em que ganha confiança em si mesmo, e em que lhe transmitem confiança, porque "o poder está dentro de nós", Po vence, e ultrapassa obstáculos inimagináveis...
São filmes com produções totalmente diferentes, um relata suspense e amor, outro relata uma moral, mas no fundo ambos nos fazem acreditar que nunca podemos, nem devemos, desistir por mais que nos magoem...
E muitas vezes, aquilo que pensamos serem as nossas maiores fraquezas podem tornar-se as nossas maiores virtudes. Basta acreditar e não desistir.
Será necessário, também, que acreditem em nós.
"O passado é história, o futuro é um mistério, e hoje é uma dádiva - por isso é chamado presente..."
Bárbara de Sotto e Freire

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